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Mensagem

Fernando Pessoa

Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 44 Rua Augusta 54 / Editora Império, Dezembro de 1934, 15-96.

  • [*]

    Fernando Pessoa


    Mensagem

    Lisboa 1934
    Parceria Antonio Maria Pereira 44 Rua Augusta 54


    [*]

    Benedictus Dominus Deus
    Noster Qui Dedit Nobis
    Signum.

    [*]

    PRIMEIRA PARTE

    BRASÃO

    [*]
    BELLUM SINE BELLO.
    [*]

    I.

    OS CAMPOS

    [15]

    PRIMEIRO

    O DOS CASTELLOS

    A Europa jaz, posta nos cotovellos:
    De Oriente a Occidente jaz, fitando,
    E toldam-lhe romanticos cabellos
    Olhos gregos, lembrando.
    O cotovello esquerdo é recuado;
    O direito é em angulo disposto.
    Aquelle diz Italia onde é pousado;
    Este diz Inglaterra onde, afastado,
    A mão sustenta, em que se appoia o rosto.
    Fita, com olhar sphyngico e fatal,
    O Occidente, futuro do passado.
    O rosto com que fita é Portugal.
    [16]

    SEGUNDO

    O DAS QUINAS

    Vendem os Deuses o que dão.
    A gloria compra-se a desgraça.
    Ai dos felizes, porque são
    Só o que passa!
    Baste a quem basta o que lhe basta
    O bastante de lhe bastar!
    A vida é breve, a alma é vasta:
    Ter é tardar.
    Foi com desgraça e com vileza
    Que Deus ao Christo definiu:
    Assím o oppoz à Natureza
    E Filho o ungiu

    II.

    OS CASTELLOS

    [*]
    [19]

    PRIMEIRO

    ULYSSES

    O mytho é o nada que é tudo.
    O mesmo sol que abre os céus
    É um mytho brilhante e mudo —
    O corpo morto de Deus,
    Vivo e desnudo.
    Este, que aqui aportou,
    Foi por não ser existindo.
    Sem existir nos bastou.
    Por não ter vindo foi vindo
    E nos creou.
    Assim a lenda se escorre
    A entrar na realidade,
    E a fecundal-a decorre.
    Em baixo, a vida, metade
    De nada, morre.
    [20]

    SEGUNDO

    VIRIATO

    Se a alma que sente e faz conhece
    Só porque lembra o que esqueceu,
    Vivemos, raça, porque houvesse
    Memoria em nós do instincto teu.
    Nação porque reincarnaste,
    Povo porque resuscitou
    Ou tu, ou o de que eras a haste —
    Assim se Portugal formou.
    Teu ser é como aquella fria
    Luz que precede a madrugada,
    E é já o ir a haver o dia
    Na antemanhã, confuso nada.
    [21]

    TERCEIRO

    O CONDE D. HENRIQUE

    Todo começo é involuntario.
    Deus é o agente.
    O heroe a si assiste, vario
    E inconsciente.
    À espada em tuas mãos achada
    Teu olhar desce.
    «Que farei eu com esta espada?»
    Ergueste-a, e fez-se.
    [22]

    QUARTO

    D. TAREJA

    As nações todas são mysterios.
    Cada uma é todo o mundo a sós.
    Ó mãe de reis e avó de imperios.
    Vella por nós!
    Teu seio augusto amamentou
    Com bruta e natural certeza
    O que, imprevisto, Deus fadou.
    Por elle resa!
    Dê tua prece outro destino
    A quem fadou o instincto teu!
    O homem que foi o teu menino
    Envelheceu.
    [23]
    Mas todo vivo é eterno infante
    Onde estás e não ha o dia.
    No antigo seio, vigilante,
    De novo o cria!
    [24]

    QUINTO

    D. AFFONSO HENRIQUES

    Pae, foste cavalleiro.
    Hoje a vigilia é nossa.
    Dá-nos o exemplo inteiro
    E a tua inteira força!
    Dá, contra a hora em que, errada,
    Novos infieis vençam,
    A benção como espada,
    A espada como benção!
    [25]

    SEXTO

    D. DINIZ

    Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
    O plantador de naus a haver,
    E ouve um silencio murmuro comsigo:
    É o rumor dos pinhaes que, como um trigo
    De Imperio, ondulam sem se poder ver.
    Arroio, esse cantar, jovem e puro,
    Busca o oceano por achar;
    E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
    É o som presente d'esse mar futuro,
    É a voz da terra anciando pelo mar.
    [26]

    SEPTIMO (I)

    D. JOÃO O PRIMEIRO

    O homem e a hora são um só
    Quando Deus faz e a história é feita.
    O mais é carne, cujo pó
    A terra espreita.
    Mestre, sem o saber, do Templo
    Que Portugal foi feito ser,
    Que houveste a gloria e déste o exemplo
    De o defender,
    Teu nome, eleito em sua fama,
    É, na ara da nossa alma interna,
    A que repelle, eterna chamma,
    A sombra eterna.
    [27]

    SEPTIMO (II)

    D. PHILIPPA DE LENCASTRE

    Que enigma havia em teu seio
    Que só genios concebia?
    Que archanjo teus sonhos veio
    Vellar, maternos, um dia?
    Volve a nós teu rosto serio,
    Princeza do Santo Gral,
    Humano ventre do Imperio,
    Madrinha de Portugal!
    [31]

    III.

    AS QUINAS

    [*]

    PRIMEIRA

    D. DUARTE, REI DE PORTUGAL

    Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
    A regra de ser Rei almou meu ser,
    Em dia e letra escrupuloso e fundo.
    Firme em minha tristeza, tal vivi.
    Cumpri contra o Destino o meu dever.
    Inutilmente? Não, porque o cumpri.
    [32]

    SEGUNDA

    D. FERNANDO, INFANTE DE PORTUGAL

    Deu-me Deus o seu gladio, porque eu faça
    A sua santa guerra.
    Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
    Às horas em que um frio vento passa
    Por sobre a fria terra.
    Poz-me as mãos sobre os hombros e doirou-me
    A fronte com o olhar;
    E esta febre de Além, que me consome,
    E este querer grandeza são seu nome
    Dentro em mim a vibrar.
    E eu vou, e a luz do gladio erguido dá
    Em minha face calma.
    Cheio de Deus, não temo o que virá,
    Pois, venha o que vier, nunca será
    Maior do que a minha alma.
    [33]

    TERCEIRA

    D. PEDRO, REGENTE DE PORTUGAL

    Claro em pensar, e claro no sentir,
    E claro no querer;
    Indifferente ao que ha em conseguir
    Que seja só obter;
    Duplice dono, sem me dividir,
    De dever e de ser —
    Não me podia a Sorte dar guarida
    Por eu não ser dos seus.
    Assim vivi, assim morri, a vida,
    Calmo sob mudos céus,
    Fiel à palavra dada e à idéa tida.
    Tudo mais é com Deus!
    [34]

    QUARTA

    D. JOÃO, INFANTE DE PORTUGAL

    Não fui alguem. Minha alma estava estreita
    Entre tam grandes almas minhas pares,
    Inutilmente eleita,
    Virgemmente parada;
    Porque é do portuguez, pae de amplos mares,
    Querer, poder só isto:
    O inteiro mar, ou a orla vã desfeita —
    O todo, ou o seu nada.
    [35]

    QUINTA

    D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL

    Louco, sim, louco, porque quiz grandeza
    Qual a Sorte a não dá.
    Não coube em mim minha certeza;
    Porisso onde o areal está
    Ficou meu ser que houve, não o que ha.
    Minha loucura, outros que me a tomem
    Com o que nella ia.
    Sem a loucura o que é o homem
    Mais que a besta sadia,
    Cadaver addiado que procria?
    [39]

    IV.

    A COROA

    [*]

    NUNALVARES PEREIRA

    Que aureola te cerca?
    É a espada que, volteando,
    Faz que o ar alto perca
    Seu azul negro e brando.
    Mas que espada é que, erguida,
    Faz esse halo no céu?
    É Excalibur, a ungida,
    Que o Rei Arthur te deu.
    Sperança consummada,
    S. Portugal em ser,
    Ergue a luz da tua espada
    Para a estrada se ver!
    [43]

    V.

    O TIMBRE

    [*]

    A CABEÇA DO GRYPHO

    O INFANTE D. HENRIQUE

    Em seu throno entre o brilho das espheras,
    Com seu manto de noite e solidão,
    Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
    O unico imperador que tem, deveras,
    O globo mundo em sua mão.
    [44]

    UMA ASA DO GRYPHO

    D. JOÃO O SEGUNDO

    Braços cruzados, fita além do mar.
    Parece em promontorio uma alta serra —
    O limite da terra a dominar
    O mar que possa haver além da terra.
    Seu formidavel vulto solitario
    Enche de estar presente o mar e o céu.
    E parece temer o mundo vario
    Que elle abra os braços e lhe rasgue o véu.
    [45]

    A OUTRA ASA DO GRYPHO

    AFFONSO DE ALBUQUERQUE

    De pé, sobre os paizes conquistados
    Desce os olhos cansados
    De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
    Não pensa em vida ou morte,
    Tam poderoso que não quer o quanto
    Póde, que o querer tanto
    Calcára mais do que o submisso mundo
    Sob o seu passo fundo.
    Trez imperios do chão lhe a Sorte apanha.
    Creou-os como quem desdenha.

    SEGUNDA PARTE

    MAR PORTUGUEZ

    [*]
    POSSESSIO MARIS
    [*]
    [51]

    I.

    O INFANTE

    Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
    Deus quiz que a terra fosse toda uma,
    Que o mar unisse, já não separasse.
    Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
    E a orla branca foi de ilha em continente,
    Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
    E viu-se a terra inteira, de repente,
    Surgir, redonda, do azul profundo.
    Quem te sagrou creou-te portuguez.
    Do mar e nós em ti nos deu signal.
    Cumpriu-se o Mar, e o Imperio se desfez.
    Senhor, falta cumprir-se Portugal!
    [52]

    II.

    HORIZONTE

    O' mar anterior a nós, teus medos
    Tinham coral e praias e arvoredos.
    Desvendadas a noite e a cerração,
    As tormentas passadas e o mysterio,
    Abria em flor o Longe, e o Sul siderio
    Splendia sobre as naus da iniciação.
    Linha severa da longinqua costa —
    Quando a nau se approxima ergue-se a encosta
    Em arvores onde o Longe nada tinha;
    Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
    E, no desembarcar, ha aves, flores,
    Onde era só, de longe a abstracta linha.
    [53]
    O sonho é ver as fórmas invisiveis
    Da distancia imprecisa, e, com sensiveis
    Movimentos da esprança e da vontade,
    Buscar na linha fria do horizonte
    A arvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
    Os beijos merecidos da Verdade.
    [54]

    III.

    PADRÃO

    O exforço é grande e o homem é pequeno.
    Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
    Este padrão ao pé do areal moreno
    E para deante naveguei.
    A alma é divina e a obra é imperfeita.
    Este padrão signala ao vento e aos céus
    Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
    O por-fazer é só com Deus.
    E ao immenso e possivel oceano
    Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
    Que o mar com fim será grego ou romano:
    O mar sem fim é portuguez.
    [55]
    E a Cruz ao alto diz que o que me ha na alma
    E faz a febre em mim de navegar
    Só encontrará de Deus na eterna calma
    O porto sempre por achar.
    [56]

    IV.

    O MOSTRENGO

    O mostrengo que está no fim do mar
    Na noite de breu ergueu-se a voar;
    À roda da nau voou trez vezes,
    Voou trez vezes a chiar,
    E disse: «Quem é que ousou entrar
    Nas minhas cavernas que não desvendo,
    Meus tectos negros do fim do mundo?»
    E o homem do leme disse, tremendo:
    «El-Rei D. João Segundo!»
    «De quem são as velas onde me roço?
    De quem as quilhas que vejo e ouço?»
    Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
    Trez vezes rodou immundo e grosso,
    [57]
    «Quem vem poder o que só eu posso,
    Que moro onde nunca ninguem me visse
    E escorro os medos do mar sem fundo?»
    E o homem do leme tremeu, e disse:
    «El-Rei D. João Segundo!»
    Trez vezes do leme as mãos ergueu.
    Trez vezes ao leme as reprendeu,
    E disse no fim de tremer trez vezes,
    «Aqui ao leme sou mais do que eu:
    Sou um Povo que quer o mar que é teu;
    E mais que o mostrengo, que me a alma teme
    E roda nas trevas do fim do mundo,
    Manda a vontade, que me ata ao leme,
    De El-Rei D. João Segundo!»
    [58]

    V.

    EPITAPHIO DE BARTHOLOMEU DIAS

    Jaz aqui, na pequena praia extrema,
    O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
    O mar é o mesmo: já ninguem o tema!
    Atlas, mostra alto o mundo no seu hombro.
    [59]

    VI.

    OS COLOMBOS

    Outros haverão de ter
    O que houvermos de perder.
    Outros poderão achar
    O que, no nosso encontrar,
    Foi achado, ou não achado,
    Segundo o destino dado.
    Mas o que a elles não toca
    É a Magia que evoca
    O Longe e faz d'elle historia.
    E porisso a sua gloria
    É uma justa aureola dada
    Por uma luz emprestada.
    [60]

    VII.

    OCCIDENTE

    Com duas mãos — o Acto e o Destino —
    Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
    Uma ergue o facho trémulo e divino
    E a outra afasta o véu.
    Fosse a hora que haver ou a que havia
    A mão que ao Occidente o véu rasgou,
    Foi alma a Sciencia e corpo a Ousadia
    Da mão que desvendou.
    Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
    A mão que ergueu o facho que luziu,
    Foi Deus a alma e o corpo Portugal
    Da mão que o conduziu.
    [61]

    VIII.

    FERNÃO DE MAGALHÃES

    No valle clareia uma fogueira.
    Uma dança sacode a terra inteira.
    E sombras disformes e descompostas
    Em clarões negros do valle vão
    Subitamente pelas encostas,
    Indo perder-se na escuridão.
    De quem é a dança que a noite aterra?
    São os Titans, os filhos da Terra,
    Que dançam da morte do marinheiro
    Que quiz cingir o materno vulto —
    Cingil-o, dos homens, o primeiro —,
    Na praia ao longe por fim sepulto.
    [62]
    Dançam, nem sabem que a alma ousada
    Do morto ainda commanda a armada,
    Pulso sem corpo ao leme a guiar
    As naus no resto do fim do espaço:
    Que até ausente soube cercar
    A terra inteira com seu abraço.
    Violou a Terra. Mas elles não
    O sabem, e dançam na solidão;
    E sombras disformes e descompostas,
    Indo perder-se nos horizontes,
    Galgam do valle pelas encostas
    Dos mudos montes.
    [63]

    IX.

    ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA

    Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
    Suspendem de repente o odio da sua guerra
    E pasmam. Pelo valle onde se ascende aos céus
    Surge um silencio, e vae, da nevoa ondeando
    os véus,
    Primeiro um movimento e depois um assombro.
    Ladeiam-o, ao durar, os medos, hombro a
    hombro,
    E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões
    Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a
    flauta
    Cahe-lhe, e em extase vê, à luz de mil trovões,
    O céu abrir o abysmo à alma do Argonauta.
    [64]

    X.

    MAR PORTUGUEZ

    Ó mar salgado, quanto do teu sal
    São lagrimas de Portugal!
    Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
    Quantos filhos em vão resaram!
    Quantas noivas ficaram por casar
    Para que fosses nosso, ó mar!
    Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.
    Quem quer passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
    Mas nelle é que espelhou o céu.
    [65]

    XI.

    A ULTIMA NAU

    Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
    E erguendo, como um nome, alto o pendão
    Do Imperio,
    Foi-se a ultima nau, ao sol aziago
    Erma, e entre choros de ancia e de presago
    Mysterio.
    Não voltou mais. A que ilha indescoberta
    Aportou? Voltará da sorte incerta
    Que teve?
    Deus guarda o corpo e a fórma do futuro,
    Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro
    E breve.
    [66]
    Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
    Mais a minha alma atlantica se exalta
    E entorna,
    E em mim, num mar que não tem tempo ou
    spaço,
    Vejo entre a cerração teu vulto baço
    Que torna.
    Não sei a hora, mas sei que ha a hora,
    Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
    Mysterio.
    Surges ao sol em mim, e a nevoa finda:
    A mesma, e trazes o pendão ainda
    Do Imperio.
    [67]

    XII.

    PRECE

    Senhor, a noite veio e a alma é vil.
    Tanta foi a tormenta e a vontade!
    Restam-nos hoje, no silencio hostil,
    O mar universal e a saüdade.
    Mas a chamma, que a vida em nós creou,
    Se ainda ha vida ainda não é finda.
    O frio morto em cinzas a occultou:
    A mão do vento póde erguel-a ainda.
    Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ancia —,
    Com que a chamma do exforço se remoça,
    E outra vez conquistemos a Distancia —
    Do mar ou outra, mas que seja nossa!

    TERCEIRA PARTE

    O ENCOBERTO

    [*]
    PAX IN EXCELSIS.
    [*]

    I.

    OS SYMBOLOS

    [*]
    [75]

    PRIMEIRO

    D. SEBASTIÃO

    Sperae! Cahi no areal e na hora adversa
    Que Deus concede aos seus
    Para o intervallo em que esteja a alma immersa
    Em sonhos que são Deus.
    Que importa o areal e a morte e a desventura
    Se com Deus me guardei?
    É O que eu me sonhei que eterno dura,
    É Esse que regressarei.
    [76]

    SEGUNDO

    O QUINTO IMPERIO

    Triste de quem vive em casa,
    Contente com o seu lar,
    Sem que um sonho, no erguer de asa,
    Faça até mais rubra a brasa
    Da lareira a abandonar!
    Triste de quem é feliz!
    Vive porque a vida dura.
    Nada na alma lhe diz
    Mais que a lição da raiz —
    Ter por vida a sepultura.
    Eras sobre eras se somem
    No tempo que em eras vem.
    Ser descontente é ser homem.
    [77]
    Que as forças cegas se domem
    Pela visão que a alma tem!
    E assim, passados os quatro
    Tempos do ser que sonhou,
    A terra será theatro
    Do dia claro, que no atro
    Da erma noite começou.
    Grecia, Roma, Christandade,
    Europa — os quatro se vão
    Para onde vae toda edade.
    Quem vem viver a verdade
    Que morreu D. Sebastião?
    [78]

    TERCEIRO

    O DESEJADO

    Onde quer que, entre sombras e dizeres,
    Jazas, remoto, sente-te sonhado,
    E ergue-te do fundo de não-seres
    Para teu novo fado!
    Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
    Mas já no auge da suprema prova,
    A alma penitente do teu povo
    À Eucharistia Nova.
    Mestre da Paz, ergue teu gladio ungido,
    Excalibur do Fim, em jeito tal
    Que sua Luz ao mundo dividido
    Revele o Santo Gral!
    [79]

    QUARTO

    AS ILHAS AFORTUNADAS

    Que voz vem no som das ondas
    Que não é a voz do mar?
    É a voz de alguem que nos falla,
    Mas que, se escutamos, cala,
    Por ter havido escutar.
    E só se, meio dormindo,
    Sem saber de ouvir ouvimos,
    Que ella nos diz a esperança
    A que, como uma criança
    Dormente, a dormir sorrimos.
    São ilhas afortunadas,
    São terras sem ter logar,
    Onde o Rei mora esperando.
    Mas, se vamos dispertando,
    Cala a voz, e ha só o mar.
    [80]

    QUINTO

    O ENCOBERTO

    Que symbolo fecundo
    Vem na aurora anciosa?
    Na Cruz Morta do Mundo
    A Vida, que é a Rosa.
    Que symbolo divino
    Traz o dia já visto?
    Na Cruz, que é o Destino,
    A Rosa, que é o Christo.
    Que symbolo final
    Mostra o sol já desperto?
    Na Cruz morta e fatal
    A Rosa do Encoberto.

    II.

    OS AVISOS

    [*]
    [83]

    PRIMEIRO

    O BANDARRA

    Sonhava, anonymo e disperso,
    O Imperio por Deus mesmo visto,
    Confuso como o Universo
    E plebeu como Jesus Christo.
    Não foi nem santo nem heroe,
    Mas Deus sagrou com Seu signal
    Este, cujo coração foi
    Não portuguez mas Portugal.
    [84]

    SEGUNDO

    ANTONIO VIEIRA

    O céu estrella o azul e tem grandeza.
    Este, que teve a fama e à gloria tem,
    Imperador da lingua portugueza,
    Foi-nos um céu tambem.
    No immenso espaço seu de meditar,
    Constellado de fórma e de visão,
    Surge, prenuncio claro do luar,
    El-Rei D. Sebastião.
    Mas não, não é luar: é luz do ethereo.
    É um dia; e, no céu amplo de desejo,
    A madrugada irreal do Quinto Imperio
    Doira as margens do Tejo.
    [85]

    TERCEIRO

    Screvo meu livro à beira-magua.
    Meu coração não tem que ter.
    Tenho meus olhos quentes de agua.
    Só tu, Senhor, me dás viver.
    Só te sentir e te pensar
    Meus dias vacuos enche e doura.
    Mas quando quererás voltar?
    Quando é o Rei? Quando é a Hora?
    Quando virás a ser o Cristo
    De a quem morreu o falso Deus,
    E a dispertar do mal que existo
    A Nova Terra e os Novos Céus?
    [86]
    Quando virás, ó Encoberto,
    Sonho das eras portuguez,
    Tornar-me mais que o sopro incerto
    De um grande anceio que Deus fez?
    Ah, quando quererás, voltando,
    Fazer minha esperança amor?
    Da nevoa e da saudade quando?
    Quando, meu Sonho e meu Senhor?

    III.

    OS TEMPOS

    [*]
    [89]

    PRIMEIRO

    NOITE

    A nau de um d'elles tinha se perdido
    No mar indefinido.
    O segundo pediu licença ao Rei
    De, na fé e na lei
    Da descoberta, ir em procura
    Do irmão no mar sem fim e a nevoa escura.
    Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
    Volveu do fim profundo
    Do mar ignoto à patria por quem dera
    O enigma que fizera.
    Então o terceiro a El-Rei rogou
    Licença de os buscar, e El-Rei negou.
    [90] Como a um captivo, o ouvem a passar
    Os servos do solar.
    E, quando o vêem, vêem a figura
    Da febre e da amargura,
    Com fixos olhos rasos de ancia
    Fitando a prohibida azul distancia.
    Senhor, os dois irmãos do nosso Nome‒
    O Poder e o Renome —
    Ambos se foram pelo mar da edade
    À tua eternidade;
    E com elles de nós se foi
    O que faz a alma poder ser de heroe,
    [91]
    Queremos ir buscal-os, d'esta vil
    Nossa prisão servil:
    É a busca de quem somos, na distancia
    De nós; e, em febre de ancia,
    A Deus as mãos alçamos.
    Mas Deus não dá licença que partamos.
    [92]

    SEGUNDO

    TORMENTA

    Que jaz no abysmo sob o mar que se ergue?
    Nós, Portugal, o poder ser.
    Que inquietação do fundo nos soergue?
    O desejar poder querer.
    Isto, e o mysterio de que a noite é o fausto...
    Mas súbito, onde o vento ruge,
    O relampago, farol de Deus, um hausto
    Brilha, e o mar scuro struge.
    [93]

    TERCEIRO

    CALMA

    Que costa é que as ondas contam
    E se não póde encontrar
    Por mais naus que haja no mar?
    O que é que as ondas encontram
    E nunca se vê surgindo?
    Este som de o mar praiar
    Onde é que está existindo?
    Ilha proxima e remota,
    Que nos ouvidos persiste,
    Para a vista não existe.
    Que nau, que armada, que frota
    Póde encontrar o caminho
    À praia onde o mar insiste,
    Se à vista o mar é sósinho?
    [94]
    Haverá rasgões no espaço
    Que dêem para outro lado,
    E que, um d'elles encontrado,
    Aqui, onde ha só sargaço,
    Surja uma ilha velada,
    O paiz afortunado
    Que guarda o Rei desterrado
    Em sua vida encantada?
    [95]

    QUARTO

    ANTEMANHÃ

    O mostrengo que está no fim do mar
    Veio das trevas a procurar
    A madrugada do novo dia,
    Do novo dia sem acabar;
    E disse: «Quem é que dorme a lembrar
    Que desvendou o Segundo Mundo,
    Nem o Terceiro quer desvendar?»
    E o som na treva de elle rodar
    Faz mau o somno, triste o sonhar,
    Rodou e foi-se o mostrengo servo
    Que seu senhor veio aqui buscar.
    Que veio aqui seu senhor chamar —
    Chamar Aquelle que está dormindo
    E foi outrora Senhor do Mar.
    [96]

    QUINTO

    NEVOEIRO

    Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
    Define com perfil e ser
    Este fulgor baço da terra
    Que é Portugal a entristecer —
    Brilho sem luz e sem arder
    Como o que o fogo-fatuo encerra.
    Ninguem sabe que coisa quer.
    Ninguem conhece que alma tem,
    Nem o que é mal nem o que é bem.
    (Que ancia distante perto chora?)
    Tudo é incerto e derradeiro.
    Tudo é disperso, nada é inteiro.
    Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
    É a Hora!
    Valete, Fratres.
    Pessoa publicou vários dos poemas do livro Mensagem, cuja historia genética remonta-se pelo menos até 1913 (cf. MPPV), em diferentes lugares ao longo de duas décadas. As publicações "Mar Português" e "Tríptico" são preparatórias do material aproveitado na versão impressa e contém variantes significativas nos títulos e alguns versos dos poemas. Por exemplo, o poema no livro intitulado "O Mostrengo" antes levou o título "O Morcego" em "Mar Português", o mesmo "Occidente", antes "Os decobridores do ocidente" e "Fernão de Magalhães", antes "Dança dos Titãs", poemas todos que apresentam mudanças significativas em alguns versos. No caso dos poemas publicados em "Tríptico", existem diferenças menores nos poemas "O infante D. Henrique", "D. João o Segundo", enquanto que o poema "Afonso de Albuquerque" foi completamente refeito para o livro, mantendo únicamente o título. Após a publicação do livro impresso alguns poemas formam republicados em jornais. É o caso de "O infante", "O Mostrengo" e "Prece", publicados no Suplemento literario do Diário de Lisboa, a 14 de Dezembro de 1934, sob o título Do livo Mensagem de Fernando Pessoa; "O dos castelos" e "D. Afonso Heriques" publicados em O "Notícias" Ilustrado a 6 de janeiro de 1935 sob o título "Mensagem" por Fernando Pessoa (Os Campos); e finalmente, os poemas "D. Dinis" e "Terceiro" foram republicados parcialmente no Suplemento do Diário de Notícias do Rio de Janeiro, a 10 de março de 1935, ainda com diferenças ortotipográficas (cf. Xavier, 2020, p. 559). No caso do poema "D. Fernando, Infante de Portugal" conhece-se a publicação previa sob o título "Gládio" com a dedicatória a Alberto da Cunha Dias, primeiro como parte do conjunto "Alguns Poemas" e depois autónomamente em "Gládio". O poema "Prece" também foi publicado autónomamente, em 1929, com ligeiras variantes ortotipográficas.
  • Fernando Pessoa

    Mensagem

    Lisboa 1934
    Parceria Antonio Maria Pereira
    44 Rua Augusta 54

    Benedictus Dominus Deus
    Noster Qui Dedit Nobis
    Signum.

    PRIMEIRA PARTE

    BRASÃO

    BELLUM SINE BELLO

    I.

    OS CAMPOS

    [15]

    PRIMEIRO

    O DOS CASTELOS

    A Europa jaz, posta nos cotovelos:
    De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
    E toldam-lhe românticos cabelos
    Olhos gregos, lembrando.
    O cotovelo esquerdo é recuado;
    O direito é em ângulo disposto.
    Aquele diz Itália onde é pousado;
    Este diz Inglaterra onde, afastado,
    A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
    Fita, com olhar esfíngico e fatal,
    O Ocidente, futuro do passado.
    O rosto com que fita é Portugal.
    [16]

    SEGUNDO

    O DAS QUINAS

    Vendem os Deuses o que dão.
    A glória compra-se a desgraça.
    Ai dos felizes, porque são
    Só o que passa!
    Baste a quem basta o que lhe basta
    O bastante de lhe bastar!
    A vida é breve, a alma é vasta:
    Ter é tardar.
    Foi com desgraça e com vileza
    Que Deus ao Cristo definiu:
    Assim o opôs à Natureza
    E Filho o ungiu

    II.

    OS CASTELOS

    [19]

    PRIMEIRO

    ULISSES

    O mito é o nada que é tudo.
    O mesmo sol que abre os céus
    É um mito brilhante e mudo —
    O corpo morto de Deus,
    Vivo e desnudo.
    Este, que aqui aportou,
    Foi por não ser existindo.
    Sem existir nos bastou.
    Por não ter vindo foi vindo
    E nos criou.
    Assim a lenda se escorre
    A entrar na realidade,
    E a fecundá-la decorre.
    Em baixo, a vida, metade
    De nada, morre.
    [20]

    SEGUNDO

    VIRIATO

    Se a alma que sente e faz conhece
    Só porque lembra o que esqueceu,
    Vivemos, raça, porque houvesse
    Memória em nós do instinto teu.
    Nação porque reencarnaste,
    Povo porque ressuscitou
    Ou tu, ou o de que eras a haste —
    Assim se Portugal formou.
    Teu ser é como aquela fria
    Luz que precede a madrugada,
    E é já o ir a haver o dia
    Na antemanhã, confuso nada.
    [21]

    TERCEIRO

    O CONDE D. HENRIQUE

    Todo começo é involuntário.
    Deus é o agente.
    O herói a si assiste, vário
    E inconsciente.
    À espada em tuas mãos achada
    Teu olhar desce.
    «Que farei eu com esta espada?»
    Ergueste-a, e fez-se.
    [22]

    QUARTO

    D. TAREJA

    As nações todas são mistérios.
    Cada uma é todo o mundo a sós.
    Ó mãe de reis e avó de impérios.
    Vela por nós!
    Teu seio augusto amamentou
    Com bruta e natural certeza
    O que, imprevisto, Deus fadou.
    Por ele reza!
    Dê tua prece outro destino
    A quem fadou o instinto teu!
    O homem que foi o teu menino
    Envelheceu.
    [23]
    Mas todo vivo é eterno infante
    Onde estás e não há o dia.
    No antigo seio, vigilante,
    De novo o cria!
    [24]

    QUINTO

    D. AFONSO HENRIQUES

    Pai, foste cavaleiro.
    Hoje a vigília é nossa.
    Dá-nos o exemplo inteiro
    E a tua inteira força!
    Dá, contra a hora em que, errada,
    Novos infiéis vençam,
    A bênção como espada,
    A espada como bênção!
    [25]

    SEXTO

    D. DINIS

    Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
    O plantador de naus a haver,
    E ouve um silêncio murmuro consigo:
    É o rumor dos pinhais que, como um trigo
    De Império, ondulam sem se poder ver.
    Arroio, esse cantar, jovem e puro,
    Busca o oceano por achar;
    E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
    É o som presente desse mar futuro,
    É a voz da terra ansiando pelo mar.
    [26]

    SÉTIMO (I)

    D. JOÃO O PRIMEIRO

    O homem e a hora são um só
    Quando Deus faz e a história é feita.
    O mais é carne, cujo pó
    A terra espreita.
    Mestre, sem o saber, do Templo
    Que Portugal foi feito ser,
    Que houveste a glória e deste o exemplo
    De o defender,
    Teu nome, eleito em sua fama,
    É, na ara da nossa alma interna,
    A que repele, eterna chama,
    A sombra eterna.
    [27]

    SÉTIMO (II)

    D. FILIPA DE LENCASTRE

    Que enigma havia em teu seio
    Que só génios concebia?
    Que arcanjo teus sonhos veio
    Velar, maternos, um dia?
    Volve a nós teu rosto sério,
    Princesa do Santo Graal,
    Humano ventre do Império,
    Madrinha de Portugal!
    [31]

    III.

    AS QUINAS

    PRIMEIRA

    D. DUARTE, REI DE PORTUGAL

    Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
    A regra de ser Rei almou meu ser,
    Em dia e letra escrupuloso e fundo.
    Firme em minha tristeza, tal vivi.
    Cumpri contra o Destino o meu dever.
    Inutilmente? Não, porque o cumpri.
    [32]

    SEGUNDA

    D. FERNANDO, INFANTE DE PORTUGAL

    Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça
    A sua santa guerra.
    Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
    Às horas em que um frio vento passa
    Por sobre a fria terra.
    Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
    A fronte com o olhar;
    E esta febre de Além, que me consome,
    E este querer grandeza são seu nome
    Dentro em mim a vibrar.
    E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
    Em minha face calma.
    Cheio de Deus, não temo o que virá,
    Pois, venha o que vier, nunca será
    Maior do que a minha alma.
    [33]

    TERCEIRA

    D. PEDRO, REGENTE DE PORTUGAL

    Claro em pensar, e claro no sentir,
    E claro no querer;
    Indiferente ao que há em conseguir
    Que seja só obter;
    Dúplice dono, sem me dividir,
    De dever e de ser —
    Não me podia a Sorte dar guarida
    Por eu não ser dos seus.
    Assim vivi, assim morri, a vida,
    Calmo sob mudos céus,
    Fiel à palavra dada e à ideia tida.
    Tudo mais é com Deus!
    [34]

    QUARTA

    D. JOÃO, INFANTE DE PORTUGAL

    Não fui alguém. Minha alma estava estreita
    Entre tão grandes almas minhas pares,
    Inutilmente eleita,
    Virgemmente parada;
    Porque é do português, pai de amplos mares,
    Querer, poder só isto:
    O inteiro mar, ou a orla vã desfeita —
    O todo, ou o seu nada.
    [35]

    QUINTA

    D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL

    Louco, sim, louco, porque quis grandeza
    Qual a Sorte a não dá.
    Não coube em mim minha certeza;
    Por isso onde o areal está
    Ficou meu ser que houve, não o que há.
    Minha loucura, outros que me a tomem
    Com o que nela ia.
    Sem a loucura o que é o homem
    Mais que a besta sadia,
    Cadáver adiado que procria?
    [39]

    IV.

    A COROA

    NUN'ÁLVARES PEREIRA

    Que auréola te cerca?
    É a espada que, volteando,
    Faz que o ar alto perca
    Seu azul negro e brando.
    Mas que espada é que, erguida,
    Faz esse halo no céu?
    É Excalibur, a ungida,
    Que o Rei Artur te deu.
    Esperança consumada,
    S. Portugal em ser,
    Ergue a luz da tua espada
    Para a estrada se ver!
    [43]

    V.

    O TIMBRE

    A CABEÇA DO GRIFO

    O INFANTE D. HENRIQUE

    Em seu trono entre o brilho das esferas,
    Com seu manto de noite e solidão,
    Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
    O único imperador que tem, deveras,
    O globo mundo em sua mão.
    [44]

    UMA ASA DO GRIFO

    D. JOÃO O SEGUNDO

    Braços cruzados, fita além do mar.
    Parece em promontório uma alta serra —
    O limite da terra a dominar
    O mar que possa haver além da terra.
    Seu formidável vulto solitário
    Enche de estar presente o mar e o céu.
    E parece temer o mundo vário
    Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
    [45]

    A OUTRA ASA DO GRIFO

    AFONSO DE ALBUQUERQUE

    De pé, sobre os países conquistados
    Desce os olhos cansados
    De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
    Não pensa em vida ou morte,
    Tão poderoso que não quer o quanto
    Pode, que o querer tanto
    Calcara mais do que o submisso mundo
    Sob o seu passo fundo.
    Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
    Criou-os como quem desdenha.

    SEGUNDA PARTE

    MAR PORTUGUÊS

    [*] POSSESSIO MARIS [*]
    [51]

    I.

    O INFANTE

    Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
    Deus quis que a terra fosse toda uma,
    Que o mar unisse, já não separasse.
    Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
    E a orla branca foi de ilha em continente,
    Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
    E viu-se a terra inteira, de repente,
    Surgir, redonda, do azul profundo.
    Quem te sagrou criou-te português.
    Do mar e nós em ti nos deu sinal.
    Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
    Senhor, falta cumprir-se Portugal!
    [52]

    II.

    HORIZONTE

    O' mar anterior a nós, teus medos
    Tinham coral e praias e arvoredos.
    Desvendadas a noite e a cerração,
    As tormentas passadas e o mistério,
    Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
    Esplendia sobre as naus da iniciação.
    Linha severa da longínqua costa —
    Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
    Em árvores onde o Longe nada tinha;
    Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
    E, no desembarcar, há aves, flores,
    Onde era só, de longe a abstrata linha.
    [53]
    O sonho é ver as formas invisíveis
    Da distância imprecisa, e, com sensíveis
    Movimentos da esperança e da vontade,
    Buscar na linha fria do horizonte
    A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
    Os beijos merecidos da Verdade.
    [54]

    III.

    PADRÃO

    O esforço é grande e o homem é pequeno.
    Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
    Este padrão ao pé do areal moreno
    E para diante naveguei.
    A alma é divina e a obra é imperfeita.
    Este padrão sinala ao vento e aos céus
    Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
    O por-fazer é só com Deus.
    E ao imenso e possível oceano
    Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
    Que o mar com fim será grego ou romano:
    O mar sem fim é português.
    [55]
    E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
    E faz a febre em mim de navegar
    Só encontrará de Deus na eterna calma
    O porto sempre por achar.
    [56]

    IV.

    O MOSTRENGO

    O mostrengo que está no fim do mar
    Na noite de breu ergueu-se a voar;
    À roda da nau voou três vezes,
    Voou três vezes a chiar,
    E disse: «Quem é que ousou entrar
    Nas minhas cavernas que não desvendo,
    Meus tetos negros do fim do mundo?»
    E o homem do leme disse, tremendo:
    «El-Rei D. João Segundo!»
    «De quem são as velas onde me roço?
    De quem as quilhas que vejo e ouço?»
    Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
    Três vezes rodou imundo e grosso,
    [57]
    «Quem vem poder o que só eu posso,
    Que moro onde nunca ninguém me visse
    E escorro os medos do mar sem fundo?»
    E o homem do leme tremeu, e disse:
    «El-Rei D. João Segundo!»
    Três vezes do leme as mãos ergueu.
    Três vezes ao leme as reprendeu,
    E disse no fim de tremer três vezes,
    «Aqui ao leme sou mais do que eu:
    Sou um Povo que quer o mar que é teu;
    E mais que o mostrengo, que me a alma teme
    E roda nas trevas do fim do mundo,
    Manda a vontade, que me ata ao leme,
    De El-Rei D. João Segundo!»
    [58]

    V.

    EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS

    Jaz aqui, na pequena praia extrema,
    O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
    O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
    Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.
    [59]

    VI.

    OS COLOMBOS

    Outros haverão de ter
    O que houvermos de perder.
    Outros poderão achar
    O que, no nosso encontrar,
    Foi achado, ou não achado,
    Segundo o destino dado.
    Mas o que a eles não toca
    É a Magia que evoca
    O Longe e faz dele história.
    E por isso a sua glória
    É uma justa auréola dada
    Por uma luz emprestada.
    [60]

    VII.

    OCIDENTE

    Com duas mãos — o Ato e o Destino —
    Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
    Uma ergue o facho trémulo e divino
    E a outra afasta o véu.
    Fosse a hora que haver ou a que havia
    A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
    Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
    Da mão que desvendou.
    Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
    A mão que ergueu o facho que luziu,
    Foi Deus a alma e o corpo Portugal
    Da mão que o conduziu.
    [61]

    VIII.

    FERNÃO DE MAGALHÃES

    No vale clareia uma fogueira.
    Uma dança sacode a terra inteira.
    E sombras disformes e descompostas
    Em clarões negros do vale vão
    Subitamente pelas encostas,
    Indo perder-se na escuridão.
    De quem é a dança que a noite aterra?
    São os Titãs, os filhos da Terra,
    Que dançam da morte do marinheiro
    Que quis cingir o materno vulto —
    Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
    Na praia ao longe por fim sepulto.
    [62]
    Dançam, nem sabem que a alma ousada
    Do morto ainda comanda a armada,
    Pulso sem corpo ao leme a guiar
    As naus no resto do fim do espaço:
    Que até ausente soube cercar
    A terra inteira com seu abraço.
    Violou a Terra. Mas eles não
    O sabem, e dançam na solidão;
    E sombras disformes e descompostas,
    Indo perder-se nos horizontes,
    Galgam do vale pelas encostas
    Dos mudos montes.
    [63]

    IX.

    ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA

    Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
    Suspendem de repente o ódio da sua guerra
    E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
    Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando
    os véus,
    Primeiro um movimento e depois um assombro.
    Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a
    ombro,
    E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões
    Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a
    flauta
    Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
    O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.
    [64]

    X.

    MAR PORTUGUÊS

    Ó mar salgado, quanto do teu sal
    São lágrimas de Portugal!
    Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
    Quantos filhos em vão rezaram!
    Quantas noivas ficaram por casar
    Para que fosses nosso, ó mar!
    Valeu a pena? Tudo vale a pena
    Se a alma não é pequena.
    Quem quer passar além do Bojador
    Tem que passar além da dor.
    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu.
    [65]

    XI.

    A ÚLTIMA NAU

    Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,
    E erguendo, como um nome, alto o pendão
    Do Império,
    Foi-se a última nau, ao sol aziago
    Erma, e entre choros de ânsia e de pressago
    Mistério.
    Não voltou mais. A que ilha indescoberta
    Aportou? Voltará da sorte incerta
    Que teve?
    Deus guarda o corpo e a forma do futuro,
    Mas Sua luz projeta-o, sonho escuro
    E breve.
    [66]
    Ah, quanto mais ao povo a alma falta,
    Mais a minha alma atlântica se exalta
    E entorna,
    E em mim, num mar que não tem tempo ou
    espaço,
    Vejo entre a cerração teu vulto baço
    Que torna.
    Não sei a hora, mas sei que há a hora,
    Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
    Mistério.
    Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
    A mesma, e trazes o pendão ainda
    Do Império.
    [67]

    XII.

    PRECE

    Senhor, a noite veio e a alma é vil.
    Tanta foi a tormenta e a vontade!
    Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
    O mar universal e a saudade.
    Mas a chama, que a vida em nós criou,
    Se ainda há vida ainda não é finda.
    O frio morto em cinzas a ocultou:
    A mão do vento pode erguê-la ainda.
    Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
    Com que a chama do esforço se remoça,
    E outra vez conquistemos a Distância —
    Do mar ou outra, mas que seja nossa!
    [80]

    TERCEIRA PARTE

    O ENCOBERTO

    [*] PAX IN EXCELSIS [*]

    I.

    OS SÍMBOLOS

    [*]
    [75]

    PRIMEIRO

    D. SEBASTIÃO

    Esperai! Cai no areal e na hora adversa
    Que Deus concede aos seus
    Para o intervalo em que esteja a alma imersa
    Em sonhos que são Deus.
    Que importa o areal e a morte e a desventura
    Se com Deus me guardei?
    É O que eu me sonhei que eterno dura,
    É Esse que regressarei.
    [76]

    SEGUNDO

    O QUINTO IMPÉRIO

    Triste de quem vive em casa,
    Contente com o seu lar,
    Sem que um sonho, no erguer de asa,
    Faça até mais rubra a brasa
    Da lareira a abandonar!
    Triste de quem é feliz!
    Vive porque a vida dura.
    Nada na alma lhe diz
    Mais que a lição da raiz —
    Ter por vida a sepultura.
    Eras sobre eras se somem
    No tempo que em eras vem.
    Ser descontente é ser homem.
    [77]
    Que as forças cegas se domem
    Pela visão que a alma tem!
    E assim, passados os quatro
    Tempos do ser que sonhou,
    A terra será teatro
    Do dia claro, que no atro
    Da erma noite começou.
    Grécia, Roma, Cristandade,
    Europa — os quatro se vão
    Para onde vai toda idade.
    Quem vem viver a verdade
    Que morreu D. Sebastião?
    [78]

    TERCEIRO

    O DESEJADO

    Onde quer que, entre sombras e dizeres,
    Jazas, remoto, sente-te sonhado,
    E ergue-te do fundo de não-seres
    Para teu novo fado!
    Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
    Mas já no auge da suprema prova,
    A alma penitente do teu povo
    À Eucaristia Nova.
    Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
    Excalibur do Fim, em jeito tal
    Que sua Luz ao mundo dividido
    Revele o Santo Graal!
    [79]

    QUARTO

    AS ILHAS AFORTUNADAS

    Que voz vem no som das ondas
    Que não é a voz do mar?
    É a voz de alguém que nos fala,
    Mas que, se escutamos, cala,
    Por ter havido escutar.
    E só se, meio dormindo,
    Sem saber de ouvir ouvimos,
    Que ela nos diz a esperança
    A que, como uma criança
    Dormente, a dormir sorrimos.
    São ilhas afortunadas,
    São terras sem ter lugar,
    Onde o Rei mora esperando.
    Mas, se vamos despertando,
    Cala a voz, e há só o mar.

    QUINTO

    O ENCOBERTO

    Que símbolo fecundo
    Vem na aurora ansiosa?
    Na Cruz Morta do Mundo
    A Vida, que é a Rosa.
    Que símbolo divino
    Traz o dia já visto?
    Na Cruz, que é o Destino,
    A Rosa, que é o Cristo.
    Que símbolo final
    Mostra o sol já desperto?
    Na Cruz morta e fatal
    A Rosa do Encoberto.

    II.

    OS AVISOS

    [83]

    PRIMEIRO

    O BANDARRA

    Sonhava, anónimo e disperso,
    O Império por Deus mesmo visto,
    Confuso como o Universo
    E plebeu como Jesus Cristo.
    Não foi nem santo nem herói,
    Mas Deus sagrou com Seu sinal
    Este, cujo coração foi
    Não português mas Portugal.
    [84]

    SEGUNDO

    ANTÓNIO VIEIRA

    O céu estrela o azul e tem grandeza.
    Este, que teve a fama e à glória tem,
    Imperador da língua portuguesa,
    Foi-nos um céu também.
    No imenso espaço seu de meditar,
    Constelado de forma e de visão,
    Surge, prenúncio claro do luar,
    El-Rei D. Sebastião.
    Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
    E' um dia; e, no céu amplo de desejo,
    A madrugada irreal do Quinto Império
    Doira as margens do Tejo.
    [85]

    TERCEIRO

    Escrevo meu livro à beira-mágoa.
    Meu coração não tem que ter.
    Tenho meus olhos quentes de água.
    Só tu, Senhor, me dás viver.
    Só te sentir e te pensar
    Meus dias vácuos enche e doura.
    Mas quando quererás voltar?
    Quando é o Rei? Quando é a Hora?
    Quando virás a ser o Cristo
    De a quem morreu o falso Deus,
    E a despertar do mal que existo
    A Nova Terra e os Novos Céus?
    [86]
    Quando virás, ó Encoberto,
    Sonho das eras português,
    Tornar-me mais que o sopro incerto
    De um grande anseio que Deus fez?
    Ah, quando quererás, voltando,
    Fazer minha esperança amor?
    Da névoa e da saudade quando?
    Quando, meu Sonho e meu Senhor?

    III.

    OS TEMPOS

    [89]

    PRIMEIRO

    NOITE

    A nau de um deles tinha se perdido
    No mar indefinido.
    O segundo pediu licença ao Rei
    De, na fé e na lei
    Da descoberta, ir em procura
    Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
    Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
    Volveu do fim profundo
    Do mar ignoto à pátria por quem dera
    O enigma que fizera.
    Então o terceiro a El-Rei rogou
    Licença de os buscar, e El-Rei negou.
    [90] Como a um cativo, o ouvem a passar
    Os servos do solar.
    E, quando o veem, veem a figura
    Da febre e da amargura,
    Com fixos olhos rasos de ânsia
    Fitando a proibida azul distância.
    Senhor, os dois irmãos do nosso Nome‒
    O Poder e o Renome —
    Ambos se foram pelo mar da idade
    À tua eternidade;
    E com eles de nós se foi
    O que faz a alma poder ser de herói.
    [91]
    Queremos ir buscá-los, desta vil
    Nossa prisão servil:
    É a busca de quem somos, na distância
    De nós; e, em febre de ânsia,
    A Deus as mãos alçamos.
    Mas Deus não dá licença que partamos.
    [92]

    SEGUNDO

    TORMENTA

    Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
    Nós, Portugal, o poder ser.
    Que inquietação do fundo nos soergue?
    O desejar poder querer.
    Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...
    Mas súbito, onde o vento ruge,
    O relâmpago, farol de Deus, um hausto
    Brilha, e o mar escuro estruge.
    [93]

    TERCEIRO

    CALMA

    Que costa é que as ondas contam
    E se não pode encontrar
    Por mais naus que haja no mar?
    O que é que as ondas encontram
    E nunca se vê surgindo?
    Este som de o mar praiar
    Onde é que está existindo?
    Ilha próxima e remota,
    Que nos ouvidos persiste,
    Para a vista não existe.
    Que nau, que armada, que frota
    Pode encontrar o caminho
    À praia onde o mar insiste,
    Se à vista o mar é sozinho?
    [94]
    Haverá rasgões no espaço
    Que deem para outro lado,
    E que, um deles encontrado,
    Aqui, onde há só sargaço,
    Surja uma ilha velada,
    O país afortunado
    Que guarda o Rei desterrado
    Em sua vida encantada?
    [95]

    QUARTO

    ANTEMANHÃ

    O mostrengo que está no fim do mar
    Veio das trevas a procurar
    A madrugada do novo dia,
    Do novo dia sem acabar;
    E disse: «Quem é que dorme a lembrar
    Que desvendou o Segundo Mundo,
    Nem o Terceiro quer desvendar?»
    E o som na treva de ele rodar
    Faz mau o sono, triste o sonhar,
    Rodou e foi-se o mostrengo servo
    Que seu senhor veio aqui buscar.
    Que veio aqui seu senhor chamar —
    Chamar Aquele que está dormindo
    E foi outrora Senhor do Mar.
    [96]

    QUINTO

    NEVOEIRO

    Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
    Define com perfil e ser
    Este fulgor baço da terra
    Que é Portugal a entristecer —
    Brilho sem luz e sem arder
    Como o que o fogo-fátuo encerra.
    Ninguém sabe que coisa quer.
    Ninguém conhece que alma tem,
    Nem o que é mal nem o que é bem.
    (Que ânsia distante perto chora?)
    Tudo é incerto e derradeiro.
    Tudo é disperso, nada é inteiro.
    Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
    É a Hora!
    Valete, Fratres.
    Pessoa publicou vários dos poemas do livro Mensagem, cuja historia genética remonta-se pelo menos até 1913 (cf. MPPV), em diferentes lugares ao longo de duas décadas. As publicações "Mar Português" e "Tríptico" são preparatórias do material aproveitado na versão impressa e contém variantes significativas nos títulos e alguns versos dos poemas. Por exemplo, o poema no livro intitulado "O Mostrengo" antes levou o título "O Morcego" em "Mar Português", o mesmo "Occidente", antes "Os decobridores do ocidente" e "Fernão de Magalhães", antes "Dança dos Titãs", poemas todos que apresentam mudanças significativas em alguns versos. No caso dos poemas publicados em "Tríptico", existem diferenças menores nos poemas "O infante D. Henrique", "D. João o Segundo", enquanto que o poema "Afonso de Albuquerque" foi completamente refeito para o livro, mantendo únicamente o título. Após a publicação do livro impresso alguns poemas formam republicados em jornais. É o caso de "O infante", "O Mostrengo" e "Prece", publicados no Suplemento literario do Diário de Lisboa, a 14 de Dezembro de 1934, sob o título Do livo Mensagem de Fernando Pessoa; "O dos castelos" e "D. Afonso Heriques" publicados em O "Notícias" Ilustrado a 6 de janeiro de 1935 sob o título "Mensagem" por Fernando Pessoa (Os Campos); e finalmente, os poemas "D. Dinis" e "Terceiro" foram republicados parcialmente no Suplemento do Diário de Notícias do Rio de Janeiro, a 10 de março de 1935, ainda com diferenças ortotipográficas (cf. Xavier, 2020, p. 559). No caso do poema "D. Fernando, Infante de Portugal" conhece-se a publicação previa sob o título "Gládio" com a dedicatória a Alberto da Cunha Dias, primeiro como parte do conjunto "Alguns Poemas" e depois autónomamente em "Gládio". O poema "Prece" também foi publicado autónomamente, em 1929, com ligeiras variantes ortotipográficas.
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