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Aleister Crowley foi assassinado?
Um novo aspecto do caso da «Bôca do Inferno»
Deve estar ainda na memória de todos, porque foi largamente tratado no Diário de Notícias , e ainda mais largamente, com ampla reportagem fotográfica, no Notícias Ilustrado , o estranho caso do desaparecimento em Portugal de Aleister Crowley, o poeta, ocultista e «homem de mistério» inglês, que se sumiu por completo, deixando na Bôca do Inferno, onde foi achada em 25 de Setembro, uma carta em linguagem misteriosa, de onde parecia depreender-se um suicídio.
Mais tarde surgiu, não entre o grande público, mas nos meios restritíssimos dos cafés, a hipótese de uma «blague», cuja base parece ter sido apenas a circunstância insuficiente de o achador da carta ser jornalista e amigo pessoal de Fernando Pessoa, o indivíduo que mais lidara com Crowley aqui em Portugal. Se o suicídio nunca deveras se provou (só o aparecimento do cadáver, como bem pensou a nossa Polícia, o poderia provar), também ninguém pôde provar que houvesse «blague». E o caso, em boa verdade, ficou sempre misterioso.
Começam agora a saber-se, ou a constar, mais coisas, vindas de fora de Portugal, e o caso, que parecia em princípio não ter outra explicação senão um suicídio ou uma «blague», tende a assumir aspectos acentuadamente mais sinistros.
Há já tempo que se sabe, por exemplo, que, logo que constou no estrangeiro o desaparecimento de Crowley, um agente da polícia inglesa apareceu na redacção do Détective, de Paris, a comprar um exemplar de um número de Maio de 1929, onde vinha um extenso artigo sôbre Crowley e sôbre a sua actividade de espionagem (nunca se soube bem a favor de quem), durante a Grande Guerra. E o que é certo é que o Détective, logo que soube que estava em Paris o sr. Ferreira Gomes, achador da carta na Bôca do Inferno, se apressou a entrevistá-lo, dedicando uma boa parte do seu número de 30 de Outubro a um extenso relato do acontecimento.
Agora constou em Lisboa, sem dúvida por uma daquelas inconfidências que seguem, como sombras, o passo de todos os segredos, que a polícia inglesa tinha chegado à conclusão de que Crowley havia sido assassinado.
Ora nós sabiamos que tinha sido o sr. Fernando Pessoa quem tinha estado em contacto com Crowley, a quando da estada dêle em Portugal, e sabíamos também ― por lho termos ouvido contar ― que estava em contacto com entidades estrangeiras, amigos e conhecidos de Crowley, que se lhe dirigiam, pedindo informações logo que o desaparecimento constou nos jornais lá de fora. Concluímos, portanto, que, se alguém soubesse alguma coisa do assunto, seria o antigo director do Orfeu. E, sem mêdo de «blagues», a êle nos dirigimos.
― Não ― diz-nos Fernando Pessoa ― não há o que v. chama «notícias» do Crowley. Quer o secretário dêle, que está em Inglaterra, quer um íntimo amigo dêle, que está na Alemanha, continuam a revelar-se, quando me escrevem, desorientados com o caso. Parecem, na verdade, não estar absolutamente convencidos do suicídio, mas também parecem não saber de que é que hão de estar convencidos. Do que não tenho dúvidas, pelo tom das cartas, é que, se Crowley está vivo algures, um e outro (e são os seus mais íntimos), lhe ignoram por completo o paradeiro.
― E você, o que pensa?
― Não penso, que é o mais cómodo. A princípio, ao verificar a absoluta autenticidade da carta e a estranhesa da sua data e assinatura (Sol em Balança e Tu Li Yu, respectivamente), acreditei em absoluto no suicídio; claramente o disse, porque o acreditava, na Investigação Criminal. Hoje reconheço falhas lógicas no argumento que me serviu para essa conclusão. A data astrológica, provando que a carta foi escrita depois das 6 horas da tarde do dia 23 de Setembro, não prova, na verdade, que Crowley se houvesse suicidado em seguida; e o facto, que me pareceu sinistro, de Crowley assinar com o nome chinês, de que êle uma vez me disse ser «uma das suas incarnações anteriores», não prova nada, pois êle pode bem ter-me mentido, com um propósito antecipado e sabendo as conclusões que eu viria a tirar, ao dar-me, aliás no acaso de uma conversa, essa informação sôbre o seu passado longínquo.
― Então?...
―Então, nada. Também me custa, não sei porquê, a acreditar numa «blague». De duas coisas é que eu tenho a certeza. A primeira é de que realmente vi o Crowley no dia 24 de Setembro, quando a Polícia Internacional diz que êle já tinha passado a fronteira. A segunda é que Crowley, não sei com que fim, me ocultou o regresso de Miss Jaeger, em 19 de Setembro. Só pela Polícia e por determinadas entidades estrangeiras é que eu depois vim a saber que êle não só não continuava a ignorar o seu paradeiro, mas até tinha ido com ela ao consulado, onde ela foi buscar auxilio para a sua viagem de regresso á Alemanha.
― E ela está na Alemanha?
― Está. Ela, afinal, nunca tinha feito mistério da sua partida. Deixou aqui, na Cook e em outros lugares, o seu endereço na Alemanha, para lhe reexpedirem para lá quaisquer cartas que viessem para ela. E já me escreveu duas vezes de lá. Também não parece saber o que é feito do Crowley, a quem, aliás, chama «bandido» numa das cartas.
― É verdade! O que é isso que consta da polícia inglesa? ― E, rapidamente, indicámos os boatos que corriam sôbre conclusões trágicas da investigação daquela polícia.
Fernando Pessoa hesita um pouco, mas, depois, diz:
― Olhe: isso, assim nitidamente posto, não me tinha constado, mas também não me espanta. Sei com absoluta certeza que estiveram aqui dois agentes investigadores ingleses a tratar do caso do Crowley. Logo no dia 29 de Setembro me apareceu aqui, neste escritório, um dêles; veio com um disfarce verbal transparente, tanto que não só eu, mas um amigo meu, inglês, que por acaso aqui estava, imediatamente desconfiámos, do «professor de línguas» que nos havia aparecido. Mais tarde soube, de optima fonte, que êste não era um policia oficial, mas um investigador particular, que aqui estava tratando de outro assunto, e recebeu instruções especiais para tratar dêste. Isto explica o seu aparecimento imediato ás notícias dos jornais. E também soube depois, por um lapso verbal de um inglês meu amigo, e neste caso informador involuntário, que mais tarde viera aqui um outro indivíduo ― êsse sem dúvida oficial ― a investigar o mesmo assunto.
― E v. sabe alguma coisa das conclusões a que chegaram êsses investigadores?
― De oficial, nada; nem tenho, excepto por dedução, a certeza da existência dêle, que aliás relaciono com essa história do outro agente oficial que visitou o Détective em Paris. Do «professor de línguas» não só tenho a certeza visual e lógica, mas consegui saber, por favor especial, três resultados das suas investigações.
«Sei que êle conseguiu «levar a sua investigação a bom fim», ou que, pelo menos, supõe que o fez; sei que nem admite a hipótese do suicídio nem a hipótese da «blague»; e sei que, desde o primeiro dia da investigação, me «riscou do caso», com o fundamento, que me deixa perplexo, de que entre Crowley e os jornais havia um elemento de ligação «muito mais íntimo e valioso» do que eu.
― Mas uma coisa que não é suicídio nem «blague», o que é que pode ser senão o assassínio?
― É, com efeito, o que ocorre; e é por isso que eu lhe disse que, embora sejam novos para mim, me não espantam os boatos sinistros que v. me contou. Posso admitir que quisessem assassinar o Crowley, mas admiti-lo-ia com mais facilidade se pudesse compreender que um indivíduo, antes de ser assassinado, se desse ao trabalho de escrever uma carta (incontestavelmente autêntica), dizendo que se suicidava. É ser boa vítima de mais...
De repente, Fernando Pessoa sorri, leva a mão à carteira, e tira dela um recorte de jornal.
― Olhe, já que fala de assassínio, vou-lhe ler um documento curioso. Isto é um recorte do diário inglês Oxford Mail , de 15 de Outubro; é de notar que Crowley era muito conhecido e admirado em Oxford; embora seja Cambridge a sua universidade. O título do artigo é «Aleister Crowley Assassinado», «Revelações Espíritas a um Médium de Londres», «Empurrado dos Rochedos Abaixo». É um telegrama ou telefonema de Londres, do correspondente do jornal. É do próprio dia, e diz assim: «Num quarto pequeno e mal iluminado em Bloomsbury, a noite passada, o sr. A. V. Peters, médium londrino, entrou em transe para se obterem algumas indicações sôbre o paradeiro do sr. Aleister Crowley, escritor e mago. Do sr. Crowley, cuja projectada conferência sôbre «Um Mago Medieval» fôra proibida em Oxford, em Fevereiro, não tem havido notícias desde que uma carta dêle se encontrou nos rochedos chamados «Bôca do Inferno», a 23 milhas de Lisboa, há quinze dias. O sr. Peters declarou que, durante o transe, lhe tinha sido indicado que o sr. Crowley estava morto, e que «tinha sido empurrado dos rochedos abaixo por um agente da Igreja Católica Romana». «Os católicos já anteriormente tinham atentado contra a vida do sr. Crowley», disse o sr. Peters, «e êle estava à espera de ser atacado». Descreveu o lugar como sendo «redondo», como uma cratera de vulcão», e o sr. Peters acrescentou que era «era nas montanhas, ao pé de água». Grande parte da sessão foi ocupada em obter detalhes pessoais sôbre o aspecto, ocupações e saúde do sr. Crowley, para fins de verificação».
― E o que se conclui disso? ― preguntámos.
― Que eu saiba, nada. Pessoalmente, nada tenho contra nem a favor das visões desta ordem. Mas é curioso, não é, depois dos boatos que me trouxe e das conclusões a que ninguém chegou?
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Aleister Crowley foi assassinado?
Um novo aspeto do caso da «Boca do Inferno»
Deve estar ainda na memória de todos, porque foi largamente tratado no Diário de Notícias, e ainda mais largamente, com ampla reportagem fotográfica, no Notícias Ilustrado , o estranho caso do desaparecimento em Portugal de Aleister Crowley, o poeta, ocultista e «homem de mistério» inglês, que se sumiu por completo, deixando na Boca do Inferno, onde foi achada em 25 de setembro, uma carta em linguagem misteriosa, de onde parecia depreender-se um suicídio.
Mais tarde surgiu, não entre o grande público, mas nos meios restritíssimos dos cafés, a hipótese de uma «blague», cuja base parece ter sido apenas a circunstância insuficiente de o achador da carta ser jornalista e amigo pessoal de Fernando Pessoa, o indivíduo que mais lidara com Crowley aqui em Portugal. Se o suicídio nunca deveras se provou (só o aparecimento do cadáver, como bem pensou a nossa Polícia, o poderia provar), também ninguém pôde provar que houvesse «blague». E o caso, em boa verdade, ficou sempre misterioso.
Começam agora a saber-se, ou a constar, mais coisas, vindas de fora de Portugal, e o caso, que parecia em princípio não ter outra explicação senão um suicídio ou uma «blague», tende a assumir aspetos acentuadamente mais sinistros.
Há já tempo que se sabe, por exemplo, que, logo que constou no estrangeiro o desaparecimento de Crowley, um agente da polícia inglesa apareceu na redação do Détective, de Paris, a comprar um exemplar de um número de maio de 1929, onde vinha um extenso artigo sobre Crowley e sobre a sua atividade de espionagem (nunca se soube bem a favor de quem), durante a Grande Guerra. E o que é certo é que o Détective, logo que soube que estava em Paris o sr. Ferreira Gomes, achador da carta na Boca do Inferno, se apressou a entrevistá-lo, dedicando uma boa parte do seu número de 30 de outubro a um extenso relato do acontecimento.
Agora constou em Lisboa, sem dúvida por uma daquelas inconfidências que seguem, como sombras, o passo de todos os segredos, que a polícia inglesa tinha chegado à conclusão de que Crowley havia sido assassinado.
Ora nós sabiamos que tinha sido o sr. Fernando Pessoa quem tinha estado em contacto com Crowley, a quando da estada dele em Portugal, e sabíamos também — por lho termos ouvido contar — que estava em contacto com entidades estrangeiras, amigos e conhecidos de Crowley, que se lhe dirigiam, pedindo informações logo que o desaparecimento constou nos jornais lá de fora. Concluímos, portanto, que, se alguém soubesse alguma coisa do assunto, seria o antigo diretor do Orfeu. E, sem medo de «blagues», a ele nos dirigimos.
― Não — diz-nos Fernando Pessoa — não há o que v. chama «notícias» do Crowley. Quer o secretário dele, que está em Inglaterra, quer um íntimo amigo dele, que está na Alemanha, continuam a revelar-se, quando me escrevem, desorientados com o caso. Parecem, na verdade, não estar absolutamente convencidos do suicídio, mas também parecem não saber de que é que hão de estar convencidos. Do que não tenho dúvidas, pelo tom das cartas, é que, se Crowley está vivo algures, um e outro (e são os seus mais íntimos), lhe ignoram por completo o paradeiro.
— E você, o que pensa?
— Não penso, que é o mais cómodo. A princípio, ao verificar a absoluta autenticidade da carta e a estranheza da sua data e assinatura (Sol em Balança e Tu Li Yu, respetivamente), acreditei em absoluto no suicídio; claramente o disse, porque o acreditava, na Investigação Criminal. Hoje reconheço falhas lógicas no argumento que me serviu para essa conclusão. A data astrológica, provando que a carta foi escrita depois das 6 horas da tarde do dia 23 de setembro, não prova, na verdade, que Crowley se houvesse suicidado em seguida; e o facto, que me pareceu sinistro, de Crowley assinar com o nome chinês, de que ele uma vez me disse ser «uma das suas encarnações anteriores», não prova nada, pois ele pode bem ter-me mentido, com um propósito antecipado e sabendo as conclusões que eu viria a tirar, ao dar-me, aliás no acaso de uma conversa, essa informação sobre o seu passado longínquo.
— Então?...
—Então, nada. Também me custa, não sei porquê, a acreditar numa «blague». De duas coisas é que eu tenho a certeza. A primeira é de que realmente vi o Crowley no dia 24 de setembro, quando a Polícia Internacional diz que ele já tinha passado a fronteira. A segunda é que Crowley, não sei com que fim, me ocultou o regresso de Miss Jaeger, em 19 de setembro. Só pela Polícia e por determinadas entidades estrangeiras é que eu depois vim a saber que ele não só não continuava a ignorar o seu paradeiro, mas até tinha ido com ela ao consulado, onde ela foi buscar auxílio para a sua viagem de regresso à Alemanha.
— E ela está na Alemanha?
— Está. Ela, afinal, nunca tinha feito mistério da sua partida. Deixou aqui, na Cook e em outros lugares, o seu endereço na Alemanha, para lhe reexpedirem para lá quaisquer cartas que viessem para ela. E já me escreveu duas vezes de lá. Também não parece saber o que é feito do Crowley, a quem, aliás, chama «bandido» numa das cartas.
— É verdade! O que é isso que consta da polícia inglesa? — E, rapidamente, indicámos os boatos que corriam sobre conclusões trágicas da investigação daquela polícia.
Fernando Pessoa hesita um pouco, mas, depois, diz:
— Olhe: isso, assim nitidamente posto, não me tinha constado, mas também não me espanta. Sei com absoluta certeza que estiveram aqui dois agentes investigadores ingleses a tratar do caso do Crowley. Logo no dia 29 de setembro me apareceu aqui, neste escritório, um deles; veio com um disfarce verbal transparente, tanto que não só eu, mas um amigo meu, inglês, que por acaso aqui estava, imediatamente desconfiámos, do «professor de línguas» que nos havia aparecido. Mais tarde soube, de ótima fonte, que este não era um polícia oficial, mas um investigador particular, que aqui estava tratando de outro assunto, e recebeu instruções especiais para tratar deste. Isto explica o seu aparecimento imediato às notícias dos jornais. E também soube depois, por um lapso verbal de um inglês meu amigo, e neste caso informador involuntário, que mais tarde viera aqui um outro indivíduo — esse sem dúvida oficial — a investigar o mesmo assunto.
— E v. sabe alguma coisa das conclusões a que chegaram esses investigadores?
— De oficial, nada; nem tenho, exceto por dedução, a certeza da existência dele, que aliás relaciono com essa história do outro agente oficial que visitou o Détective em Paris. Do «professor de línguas» não só tenho a certeza visual e lógica, mas consegui saber, por favor especial, três resultados das suas investigações.
«Sei que ele conseguiu «levar a sua investigação a bom fim», ou que, pelo menos, supõe que o fez; sei que nem admite a hipótese do suicídio nem a hipótese da «blague»; e sei que, desde o primeiro dia da investigação, me «riscou do caso», com o fundamento, que me deixa perplexo, de que entre Crowley e os jornais havia um elemento de ligação «muito mais íntimo e valioso» do que eu.
— Mas uma coisa que não é suicídio nem «blague», o que é que pode ser senão o assassínio?
— É, com efeito, o que ocorre; e é por isso que eu lhe disse que, embora sejam novos para mim, me não espantam os boatos sinistros que v. me contou. Posso admitir que quisessem assassinar o Crowley, mas admiti-lo-ia com mais facilidade se pudesse compreender que um indivíduo, antes de ser assassinado, se desse ao trabalho de escrever uma carta (incontestavelmente autêntica), dizendo que se suicidava. É ser boa vítima de mais...
De repente, Fernando Pessoa sorri, leva a mão à carteira, e tira dela um recorte de jornal.
— Olhe, já que fala de assassínio, vou-lhe ler um documento curioso. Isto é um recorte do diário inglês Oxford Mail, de 15 de outubro; é de notar que Crowley era muito conhecido e admirado em Oxford; embora seja Cambridge a sua universidade. O título do artigo é «Aleister Crowley Assassinado», «Revelações Espíritas a um Médium de Londres», «Empurrado dos Rochedos Abaixo». É um telegrama ou telefonema de Londres, do correspondente do jornal. É do próprio dia, e diz assim: «Num quarto pequeno e mal iluminado em Bloomsbury, a noite passada, o sr. A. V. Peters, médium londrino, entrou em transe para se obterem algumas indicações sobre o paradeiro do sr. Aleister Crowley, escritor e mago. Do sr. Crowley, cuja projetada conferência sobre «Um Mago Medieval» fora proibida em Oxford, em fevereiro, não tem havido notícias desde que uma carta dele se encontrou nos rochedos chamados «Boca do Inferno», a 23 milhas de Lisboa, há quinze dias. O sr. Peters declarou que, durante o transe, lhe tinha sido indicado que o sr. Crowley estava morto, e que «tinha sido empurrado dos rochedos abaixo por um agente da Igreja Católica Romana». «Os católicos já anteriormente tinham atentado contra a vida do sr. Crowley», disse o sr. Peters, «e ele estava à espera de ser atacado». Descreveu o lugar como sendo «redondo», como uma cratera de vulcão», e o sr. Peters acrescentou que era «era nas montanhas, ao pé de água». Grande parte da sessão foi ocupada em obter detalhes pessoais sobre o aspeto, ocupações e saúde do sr. Crowley, para fins de verificação».
— E o que se conclui disso? — perguntámos.
— Que eu saiba, nada. Pessoalmente, nada tenho contra nem a favor das visões desta ordem. Mas é curioso, não é, depois dos boatos que me trouxe e das conclusões a que ninguém chegou?
Aleister Crowley foi assassinado?
Fernando Pessoa
Girasol , 16 de dezembro de 1930.