-
PASSOS DA CRUZ
XII
Ella ia, tranquila pastorinha,
Pela estrada da minha imperfeição.
Seguia-a, como um gesto de perdão,
O seu rebanho, a saudade minha...
«Em longes terras hás de ser rainha»
Um dia lhe disseram, mas em vão...
Seu vulto perde-se na escuridão...
Só sua sombra ante meus pés caminha...
Deus te dê lyrios em vez desta hora,
E em terras longe do que eu hoje sinto
serás, rainha não, mas só pastora —
Só sempre a mesma pastorinha a ir,
E eu serei teu regresso, esse indistincto
abysmo entre o meu sonho e o meu porvir...
FERNANDO PESSOA.
Este soneto foi anteriormente incluído no conjunto “Passos da Cruz” (Centauro número único, Dezembro de 1916, pp.62-76), com diferenças ortográficas e opção pela maiúscula inicial nos terceiros versos dos tercetos. -
PASSOS DA CRUZ
XII
Ela ia, tranquila pastorinha,
Pela estrada da minha imperfeição.
Seguia-a, como um gesto de perdão,
O seu rebanho, a saudade minha...
«Em longes terras hás de ser rainha»
Um dia lhe disseram, mas em vão...
Seu vulto perde-se na escuridão...
Só sua sombra ante meus pés caminha...
Deus te dê lírios em vez desta hora,
E em terras longe do que eu hoje sinto
serás, rainha não, mas só pastora —
Só sempre a mesma pastorinha a ir,
E eu serei teu regresso, esse indistinto
abismo entre o meu sonho e o meu porvir...
FERNANDO PESSOA.
Este soneto foi anteriormente incluído no conjunto “Passos da Cruz” (Centauro número único, Dezembro de 1916, pp.62-76), com diferenças ortográficas e opção pela maiúscula inicial nos terceiros versos dos tercetos.
Passos da Cruz, XII
Fernando Pessoa
O “Notícias” Ilustrado , 28 de abril de 1929, p. 11.