-
Versos de Fernando Pessoa
Minuete invisivel
Elas são vaporosas,
Palidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar..
Veem, aereas, dançar
Como perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos...
Chora no som dos repuxos
O ritmo que ha nos seus vultos...
Passam e agitam a brisa...
Palida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em auréola á hóra...
Passam nos ritmos da sombra...
Ora é uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene...
E assim vão indo, delindo
Seu perfil unico e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim livido e frio...
Passam sósinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longinquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
Palido palio lunar...
Névoa
A névoa involve a montanha,
Húmido, um frio desceu.
O que é esta mágua estranha
Que o coração me prendeu?
Parece ser a tristeza
De alguem de quem sou actor,
Com fantasiada viveza
Tornada já minha dôr.
Mas, não sei porquê, me doi
Qual se fôra eu a ilusão;
E ha névoa em tudo o que foi
E frio em meu coração.
O poema ʺMinuete invisivelʺ foi anteriormente incluído em ʺFicções do Interludioʺ, parte do conjunto ʺEpisódiosʺ, Portugal Futurista, Novembro de 1917, pp. 21-23, com algumas diferenças ortográficas. -
Versos de Fernando Pessoa
Minuete invisível
Elas são vaporosas,
Pálidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar..
Vêm, aéreas, dançar
Como perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos...
Chora no som dos repuxos
O ritmo que há nos seus vultos...
Passam e agitam a brisa...
Pálida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em auréola à hora...
Passam nos ritmos da sombra...
Ora é uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene...
E assim vão indo, delindo
Seu perfil único e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim lívido e frio...
Passam sozinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longínquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
Pálido pálio lunar...
Névoa
A névoa envolve a montanha,
Húmido, um frio desceu.
O que é esta mágoa estranha
Que o coração me prendeu?
Parece ser a tristeza
De alguém de quem sou ator,
Com fantasiada viveza
Tornada já minha dor.
Mas, não sei porquê, me dói
Qual se fora eu a ilusão;
E há névoa em tudo o que foi
E frio em meu coração.
O poema ʺMinuete invisivelʺ foi anteriormente incluído em ʺFicções do Interludioʺ, parte do conjunto ʺEpisódiosʺ, Portugal Futurista, Novembro de 1917, pp. 21-23, com algumas diferenças ortográficas.
Versos de Fernando Pessoa (Minuete Invisível, Névoa)
Fernando Pessoa
Diário dos Açores , 17 de julho de 1930, p. 1.