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Fresta

Fernando Pessoa

Momento 5, março de 1934.

  • FRESTA

    Em meus momentos escuros
    Em que em mim não há ninguem,
    E tudo é nevoas e muros
    Quanto a vida dá ou tem,
    Se, um instante, erguendo a fronte
    De onde em mim sou soterrado,
    Vejo o longinquo horisonte
    Cheio do sol posto ou nado,
    Revivo, existo, conheço;
    E, inda que seja ilusão
    O exterior em que me esqueço,
    Nada mais quero nem peço:
    Entrego-lhe o coração.
  • FRESTA

    Em meus momentos escuros
    Em que em mim não há ninguém,
    E tudo é névoas e muros
    Quanto a vida dá ou tem,
    Se, um instante, erguendo a fronte
    De onde em mim sou soterrado,
    Vejo o longínquo horizonte
    Cheio do sol posto ou nado,
    Revivo, existo, conheço;
    E, ainda que seja ilusão
    O exterior em que me esqueço,
    Nada mais quero nem peço:
    Entrego-lhe o coração.