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Abdicação

Fernando Pessoa

Resurreição 9, fevereiro de 1920, p. 4.

  • ABDICAÇÃO

    Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
    E chama-me teu filho.

    Eu sou um rei


    Que voluntariamente abandonei
    O meu throno de sonhos e cansaços.
    Minha espada, pesada a braços lassos,
    Em mãos viris e calmas entreguei;
    E meu sceptro e corôa, — eu os deixei
    Na antecamara, feitos em pedaços.
    Minha cota de malha, tão inutil,
    Minhas esporas, de um tinir tão futil,
    Deixei-as pela fria escadaria.
    Despi a realeza, corpo e alma,
    E regressei á noite antiga e calma
    Como a paisagem ao morrer do dia.

    FERNANDO PESSOA.

  • ABDICAÇÃO

    Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
    E chama-me teu filho.

    Eu sou um rei


    Que voluntariamente abandonei
    O meu trono de sonhos e cansaços.
    Minha espada, pesada a braços lassos,
    Em mãos viris e calmas entreguei;
    E meu ceptro e coroa, — eu os deixei
    Na antecâmara, feitos em pedaços.
    Minha cota de malha, tão inútil,
    Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
    Deixei-as pela fria escadaria.
    Despi a realeza, corpo e alma,
    E regressei à noite antiga e calma
    Como a paisagem ao morrer do dia.

    FERNANDO PESSOA.

  • Nomes

    • Fernando Pessoa