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Ultimatum

Álvaro de Campos

Portugal Futurista 1, novembro de 1917, pp. 30-34.

  • ULTIMATUM

    de Alvaro de Campos

    Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fóra.

    Fóra tu, Anatole France, Epicuro de pharmacopeia homeopathica, tenia-Jaurès do Ancien Régime, salada de Renan- Flaubert em louça do seculo dezesete, falsificada!

    Fóra tu, Maurice Barrès, feminista da Acção, Châteaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da patria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu commercio!

    Fóra tu, Bourget das almas, lamparineiro das particulas alheias, psychologo de tampa de brazão, reles snob plebeu, sublinhando a regua de lascas os mandamentos da lei da Egreja!

    Fóra tu, mercadoria Kipling, homem-practico do verso, imperialista das sucatas, epico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa immortalidade!

    Fóra! Fóra!

    Fóra tu, George Bernard Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intellectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti proprio, Irish Melody calvinista com lettra da Origem das Especies!

    Fóra tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, sacca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!

    Fóra tu, G. K. Chesterton, christianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialectica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocinios!

    Fóra tu, Yeats da celtica bruma á roda de poste sem indicações, sacco de pôdres que veiu á praia do naufragio do symbolismo inglez!

    Fóra! Fóra!

    Fóra tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em characteres gregos, “D. Juan em Pathmos” (solo de trombone)!

    E tu, Maeterlinck, fogão do Mysterio apagado!

    E tu, Loti, sopa salgada, fria!

    E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!

    Fóra! Fóra! Fóra!

    E se houver outros que faltem, procurem-nos ahi pra um canto!

    Tirem isso tudo da minha frente!

    Fóra com isso tudo! Fóra!

     

    Ahi! Que fazes tu na celebridade, Guilherme Segundo da Allemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!

    Quem és tu, tu da juba socialista, David Lloyd George, bobo de barrete phrygio feito de Union Jacks?!

    E tu, Venizelos, fatia de Pericles com manteiga, cahida no chão de manteiga para baixo?!

    E tu, qualquer outro, todos os outros, assorda Briand-Dato-Boselli da incompetencia ante os factos, todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intellectual!

    E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados pra baixo á porta da Insufficiencia da Epocha!

    Tirem isso tudo da minha frente!

    Arranjem feixes de palha e ponham-os a fingir gente que seja outra!

    Tudo de aqui pra fóra! Tudo de aqui pra fóra!

    Ultimatum a elles todos, e a todos os outros que sejam como elles todos!

    Se não querem sahir, fiquem e lavem-se!

     

    Fallencia geral de tudo por causa de todos!

    Fallencia geral de todos por causa de tudo!

    Fallencia dos povos e dos destinos — fallencia total!

    Desfile das nações para o meu Desprezo!

    Tu, ambição italiana, cão de collo chamado Cesar!

    Tu, “esforço francez”, gallo depennado com a pelle pintada de pennas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)

    Tu organização britannica, com Kitchener no fundo do mar desde o principio da guerra!

    (It's a long, long way to Tipperary, and a jolly sight longer way to Berlin!)

    Tu, cultura allemã, Sparta podre com azeite de christismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordeamento imperialoide de servilismo engatado!

    Tu, Austria-subdita, mixtura de sub-raças, batente de porta typo K!

    Tu, Von Belgica, heroica á força, limpa a mão á parede que fôste!

    Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desopprimida porque se partiu!

    Tu, “imperialismo” hespanhol, salero em politica, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!

    Tu, Estados Unidos da America, synthese-bastardia da baixa-Europa, alho da assorda transatlantica, pronuncia nasal do modernismo inesthetico!

    E tu, Portugal-centavos, resto de Monarchia a apodrecer Republica, extrema-uncção-enxovalho da Desgraça, collaboração artificial na guerra com vergonhas naturaes em Africa!

    E tu, Brazil, “republica irmã”, blague de Pedro Alvares Cabral, que nem te queria descobrir!

    Ponham-me um panno por cima de tudo isso!

    Fechem-me isso á chave e deitem a chave fóra!

    Onde estão os antigos, as fôrças, os homens, os guias, os guardas?

    Vão aos cemiterios, que hoje são só nomes nas lapides!

    Agora a philosophia é o ter morrido Fouillée!

    Agora a arte é o ter ficado Rodin!

    Agora a litteratura é Barrès significar!

    Agora a critica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!

    Agora a politica é a degeneração gordurosa da organização da incompetencia!

    Agora a religião é o catholicismo militante dos taberneiros da fé, o enthusiasmo cosinha-franceza dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas christãos, dos intuicionistas catholicos, dos ritualistas nirvanicos, angariadores de annuncios para Deus!

    Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!

    Suffoco de ter só isto á minha volta!

    Deixem-me respirar!

    Abram todas as janellas!

    Abram mais janellas do que todas as janellas que ha no mundo!

     

    Nenhuma idéa grande, ou noção completa ou ambição imperial de imperador-nato!

    Nenhuma idéa de uma estructura, nenhum senso do Edificio, nenhuma ansia do Organico-Creado!

    Nem um pequeno Pitt, nem um Goethe de cartão, nem um Napoleão de Nürnberg!

    Nem uma corrente litteraria que seja sequer a sombra do romantismo ao meio-dia!

    Nem um impulso militar que tenha sequer o vago cheiro de um Austerlitz!

    Nem uma corrente politica que sôe a uma idéa-grão, chocalhando-a, ó Caios Gracchos de tamborilar na vidraça!

    Epocha vil dos secundarios, dos approximados, dos lacaios com aspirações de lacaios a reis-lacaios!

    Lacaios que não sabeis ter a Aspiração, burguezes do Desejo, transviados do balcão instinctivo! Sim, todos vós que representaes a Europa, todos vós que sois politicos em evidencia em todo o mundo, que sois litteratos meneurs de correntes europeias, que sois qualquer cousa a qualquer cousa neste maelström de chá-môrno!

     

    Homens-altos de Lilliput-Europa, passae por baixo do meu Desprezo!

    Passae vós, ambiciosos do luxo quotidiano, anseios de costureiras dos dois sexos, vós cujo typo é o plebeu Annunzio, aristocrata de tanga de ouro!

    Passae vós, que sois auctores de correntes sociaes, de correntes litterarias, de correntes artisticas, verso da medalha da impotencia de crear!

    Passae, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!

    Passae, radicaes do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorancia por columna da audacia, que tendes a impotencia por esteio das neo-theorias!

    Passae, gigantes de formigueiro, ebrios da vossa personalidade de filhos de burguez, com a mania da grande-vida roubada na dispensa paterna e a hereditariedade indesentranhada dos nervos!

    Passae, mixtos; passae, debeis que só cantaes a debilidade; passae, ultra-debeis que cantaes só a fôrça, burguezes pasmados ante o athleta de feira que quereis crear na vossa indecisão febril!

    Passae, esterco epileptoide sem grandezas, hysterialixo dos espectaculos, senilidade social do conceito individual de juventude!

    Passae, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cerebro de origem!

    Passae á esquerda do meu Desdem virado á direita, creadores de “systemas philosophicos”, Boutroux, Bergsons, Euckens, hospitaes para religiosos incuraveis, pragmatistas do jornalismo metaphysico, lazzaroni da construcção meditada!

    Passae e não volteis, burguezes da Europa-Total, parias da ambição de parecer-grandes, provincianos de Paris!

    Passai, decigrammas da Ambição, grandes só numa epocha que conta a grandeza por centimiligrammas!

    Passae, provisorios, quotidianos, artistas e politicos estylo lightning-lunch, servos empoleirados da Hora, trintanarios da Occasião!

    Passae, “finas sensibilidades” pela falta de espinha dorsal; passae, constructores de café e conferencia, monte de tijolos com pretensões a casa!

    Passae, cerebraes dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!

    Inutil luxo, passae, vã grandeza ao alcance de todos, megalomania triumphante do aldeão de Europa-aldeia! Vós que confundis o humano com o popular, e o aristocratico com o fidalgo! Vós que confundis tudo, que, quando não pensaes nada, dizeis sempre outra cousa! Chocalhos, incompletos, maravalhas, passae!

    Passae, pretendentes a reis parciaes, lords de serradura, senhores feudaes do Castello de Papelão!

    Passae, romantismo posthumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em alcool dos fetos de Racine, dynamismo dos Whitmans de degrau de porta, dos pedintes da inspiração forçada, cabeças ôcas que fazem barulho porque vão bater com ellas nas paredes!

    Passae, cultores do hypnotismo em casa, dominadores da visinha do lado, caserneiros da Disciplina que não custa nem cria!

    Passae, tradicionalistas auto-convencidos, anarchistas deveras sinceros, socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar! Rotineiros da revolução, passae!

    Passae eugenistas, organizadores de uma vida de lata, prussianos da biologia applicada, neo-mendelianos da incomprehensão sociologica!

    Passae, vegeterianos, teetotalers, calvinistas dos outros, kill-joys do imperialismo de sobejo!

    Passae, amanuenses do “vivre sa vie” de botequim extremamente de esquina, ibsenoides Bernstein-Bataille do homem forte de sala de palco!

    Tango de pretos, fôsses tu ao menos minuete!

    Passae, absolutamente, passae!

     

    Vem tu finalmente ao meu Asco, roça-te tu finalmente contra as solas do meu Desdem, grand finale dos parvos, conflagração-escarneo, fogo em pequeno monte de estrume, synthese dynamica do estatismo ingenito da Epocha!

    Roça-te tu e roja-te, impotencia a fazer barulho!

    Roça-te, canhões declamando a incapacidade de mais ambição que balas, de mais intelligencia que bombas!

    Que esta é a equação-lama da infamia do cosmopolitismo de tiros:

    VON BISSING
    BELGICA
    = JONNART
    GRECIA

    Proclamem bem alto que ninguem combate pela Liberdade ou pelo Direito! Todos combatem por medo dos outros! Não tem mais metros que estes millimetros a estatura das suas direcções!

    Lixo guerreiro-palavroso! Esterco Joffre-Hindenburguesco! Sentina europeia de Os Mesmos em scisão balofa!

    Quem acredita nelles?

    Quem acredita nos outros?

    Façam a barba aos poilus!

    Descasquetem o rebanho inteiro!

    Mandem isso tudo pra casa descascar batatas symbolicas!

    Lavem essa celha de mixordia inconsciente!

    Atrelem uma locomotiva a essa guerra!

    Ponham uma colleira a isso e vão exhibil-o para a Australia!

     

    Homens, nações, intuitos, está tudo nullo!

    Fallencia de tudo por causa de todos!

    Fallencia de todos por causa de tudo!

    De um modo completo, de um modo total, de um modo integral:

    MERDA!

    A Europa tem sêde de que se crie, tem fome de Futuro!

    A Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generaes!

    Quer o Politico que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu Povo!

    Quer o Poeta que busque a Immortalidade ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as actrizes e para os productos pharmaceuticos!

    Quer o General que combata pelo Triumpho Constructivo, não pela victoria em que apenas se derrotam os outros!

    A Europa quer muitos d’estes Politicos, muitos d’estes Poetas, muitos d’estes Generaes!

    A Europa quer a Grande Idéa que esteja por dentro d’estes Homens Fortes — a idéa que seja o Nome da sua riqueza anonyma!

    A Europa quer a Intelligencia Nova que seja a Fórma da sua Mateira chaotica!

    Quer a Vontade Nova que faça um Edificio com as pedras-ao-acaso do que é hoje a Vida!

    Quer a Sensibilidade Nova que reuna de dentro os egoismos dos lacaios da Hora!

    A Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!

    A Europa está farta de não existir ainda! Está farta de ser apenas o arrabalde de si-propria! A Era das Machinas procura, tacteando, a vinda da Grande Humanidade!

    A Europa anseia, ao menos, por Theoricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do seu Futuro!

    Dae Homeros á Era das Machinas, ó Destinos scientificos! Dae Miltons á Epocha das Cousas Electricas, ó Deuses interiores á Materia!

    Dai-nos Possuidores de si-proprios, Fortes Completos, Harmonicos Subtis!

    A Europa quer passar de designação geographica a pessoa civilizada!

    O que ahi está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!

    O que ahi está não pode durar, porque não é nada!

    Eu, da Raça dos Navegadores, affirmo que não pode durar!

    Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!

    Quem ha na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a descobrir? Quem sabe estar em um Sagres qualquer?

    Eu, ao menos, sou uma grande Ansia, do tamanho exacto do Possivel!

    Eu, ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!

    Ergo-me ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!

    Eu, ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!

    Vou indicar o caminho!

    ATTENÇÃO!

    Proclamo, em primeiro logar,

    A Lei de Malthus da Sensibilidade

    Os estimulos da sensibilidade augmentam em progressão geometrica; a propria sensibilidade apenas em progressão arithmetica.

    Comprehende-se a importancia d’esta lei. A sensibilidade — tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possiveis — é a fonte de toda a creação civilizada. Mas essa creação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funcciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a fôrça da obra resultante.

    Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influencia insistente do meio actual, é, nas suas linhas geraes, constante, e determinada no mesmo individuo desde a sua nascença, funcção do temperamento que a hereditariedade lhe infixou. A sensibilidade, portanto, progride por gerações.

    As creações da civilização, que constituem o “meio” da sensibilidade, são a cultura, o progresso scientifico, a alteração nas condições politicas (dando á expressão um sentido completo); ora estes — e sobretudo o progresso cultural e scientifico, uma vez começado — progridem não por obra de gerações, mas pela interacção e sobreposição da obra de individuos, e, embora lentamente a principio, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estimulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pae não transmitte ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

    Temos, pois, que a uma certa altura da civilização ha de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estimulos — uma fallencia portanto. Dá-se isso na nossa epocha, cuja incapacidade de crear grandes valores deriva dessa desadaptação.

    A desadaptação não foi grande no primeiro periodo da nossa civilisação, da Renascença ao seculo XVIII, em que os estimulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estimulos, por sua propria natureza, eram de progresso lento, e attingiam a principio apenas as camadas superiores da sociedade. Accentuou-se a desadaptação no segundo periodo, que parte da Revolução para o seculo XIX, e em que os estimulos são já sobretudo politicos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estimulo muito mais vasto. Cresceu a desadaptação vertiginosamente no periodo desde meados do seculo XIX á nossa epocha, em que o estimulo, sendo as creações da sciencia, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa atraz os progressos da sensibilidade, e, nas applicações practicas da sciencia, attinge toda a sociedade. Assim se chega á enorme desproporção entre o termo presente da progressão geometrica dos estimulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão arithmetica da propria sensibilidade.

    De ahi a desadaptação, a incapacidade creativa da nossa epocha. Temos, portanto, um dilemma: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural, a instinctiva falliu.

    Para que a civilização não morra, proclamo, portanto, em segundo logar,

    A Necessidade da Adaptação Artificial

    O que é a adaptação artificial?

    É um acto de cirurgia sociológica. É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar, pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estimulos.

    A sensibilidade chegou a um estado morbido, porque se desadaptou. Não ha que pensar em cural-a. Não ha curas sociaes. Ha que pensar em operal-a para que ella possa continuar a viver. Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirurgica, embora envolva uma mutilação.

    O que é que é preciso eliminar do psychismo contemporaneo?

    Evidentemente que é aquillo que seja a acquisição fixa mais recente no espirito — isto é, aquella acquisição geral do espirito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por trez razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psychicas, é a menos difficil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se fórma por uma reacção contra a anterior, são os principios da anterior que são os mais antagonicos á actual e que mais impedem a sua adaptação ás condições especiaes que durante esta appareçam; (c) porque, sendo a acquisição fixa mais recente, a sua eliminação não ferirá tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo deposito psychico.

    Qual é a ultima acquisição fixa do espirito humano geral?

    Deve ser composta de dogmas do christianismo, porque a Edade Media, vigencia plena d’aquelle systema religioso, precede immediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa civilização, e os principios christãos são contradictados pelos firmes ensinamentos da sciencia moderna.

    A adaptação artificial será portanto expontaneamente feita desde que se faça uma eliminação das acquisições fixas do espirito humano, que derivam da sua mergencia no christianismo.

    Proclamo, porisso, em terceiro logar,

    A intervenção cirurgica anti-christã

    Resolve-se ella, como é de ver, na eliminação dos trez preconceitos, dogmas, ou attitudes, que o christianismo fez que se infiltrassem na propria substancia da psyque humana.

    Explicação concreta:

    1. — Abolição do dogma da personalidade — isto é, de que temos uma Personalidade “separada” das dos outros. É uma ficção theologica. A personalidade de cada um de nós é composta (como o sabe a psychologia moderna, sobretudo desde a maior attenção dada á sociologia) do cruzamento social com as “personalidades” dos outros, da immersão em correntes e direcções sociaes e da fixação de vincos hereditarios, oriundos, em grande parte, de phenomenos de ordem collectiva. Isto é, no presente, no futuro, e no passado, somos parte dos outros, e elles parte de nós. Para o auto-sentimento christão, o homem mais perfeito é o que com mais verdade possa dizer “eu sou eu”; para a sciencia, o homem mais perfeito é o que com mais justiça possa dizer “eu sou todos os outros”.

    Devemos pois operar a alma, de modo a abril-a á consciencia da sua interpenetração com as almas alheias, obtendo assim uma approximação concretizada do Homem-Completo, do Homem-Synthese da Humanidade.

    Resultados d’esta operação:

     

    (a) Em politica: Abolição total do conceito de democracia, conforme a Revolução Franceza, pelo qual dois homens correm mais que um homem só, o que é falso, porque um homem que vale por dois é que corre mais que um homem só! Um mais um não são mais do que um, enquanto um e um não formam aquelle Um a que se chama Dois. —Substituição, portanto, á Democracia, da Dictadura do Completo, do Homem que seja, em si-proprio, o maior numero de Outros; que seja, portanto, A Maioria. Encontra-se assim o Grande Sentido da Democracia, contrário em absoluto ao da actual, que, aliás, nunca existiu.

    (b) Em arte: Abolição total do conceito de que cada individuo tem o direito ou o dever de exprimir o que sente. Só tem o direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o individuo que sente por varios. Não confundir com “a expressão da Epocha”, que é buscada pelos individuos que nem sabem sentir por si-proprios. O que é preciso é o artista que sinta por um certo numero de Outros, todos differentes uns dos outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro. O artista cuja arte seja uma Synthese-Somma, e não uma Synthese-Subtracção dos outros de si, como a arte dos actuaes.

    (c) Em philosophia: Abolição do conceito de verdade absoluta. Creação da Super-Philosophia. O philosopho passará a ser o interpretador de subjectivites entrecruzadas, sendo o maior philosopho o que maior numero de philosophias expontaneas alheias concentrar. Como tudo é subjectivo, cada opinião é verdadeira para cada homem: a maior verdade será a somma-synthese-interior do maior numero d’estas opiniões verdadeiras que se contradizem umas ás outras.

     

    2. — Abolição do preconceito da individualidade. — É outra ficção theologica — a de que a alma de cada um é una e indivisivel. A sciencia ensina, ao contrario, que cada um de nós é um agrupamento de psychismos subsidiarios, uma synthese malfeita de almas cellulares. Para o auto-sentimento christão, o homem mais perfeito é o mais coherente comsigo proprio; para o homem de sciencia, o mais perfeito é o mais incoherente comsigo proprio,

    Resultados:

     

    (a) Em politica: A abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espirito, o desapparecimento total de toda a fixidez de opiniões e de modos-de-ver; desapparecimento portanto de todas as instituições que se apoiem no facto de qualquer “opinião publica” poder durar mais de meia-hora. A solução de um problema num dado momento historico será feita pela coordenação dictatorial (vide paragrapho anterior) dos impulsos do momento dos componentes humanos d’esse problema, que é uma cousa puramente subjectiva, é claro. Abolição total do passado e do futuro como elementos com que se conte, ou em que se pense, nas soluções politicas. Quebra inteira de todas as continuidades.

    (b) Em arte: Abolição do dogma da individualidade artistica. O maior artista será o que menos se definir, e o que escrever em mais generos com mais contradicções e dissimilhanças. Nenhum artista deverá ter só uma personalidade. Deverá ter varias, organisando cada uma por reunião concretizada de estados de alma similhantes, dissipando assim a ficção grosseira de que é uno e indivisivel.

    (c) Em philosophia: Abolição total da Verdade como conceito philosophico, mesmo relativo ou subjectivo. Reducção da philosophia á arte de ter theorias interessantes sobre o “Universo”. O maior philosopho aquelle artista do pensamento, ou antes da “arte abstracta” (nome futuro da philosophia) que mais theorias coordenadas, não relacionadas entre si, tiver sobre a “Existencia”.

     

    3. — Abolição do dogma do objectivismo pessoal. — A objectividade é uma media grosseira entre as subjectividades parciaes. Se uma sociedade fôr composta, por ex., de cinco homens, a, b, c, d, e e, a “verdade” ou “objectividade” para essa sociedade será representada por

    a+b+c+d+e
    5

    No futuro cada individuo deve tender para realisar em si esta media. Tendencia, portanto de cada individuo, ou, pelo menos, de cada individuo superior, a ser uma harmonia entre as subjectividades alheias (das quaes a propria faz parte), para assim se approximar o mais possivel d’aquella Verdade-Infinito, para a qual idealmente tende a série numerica das verdades parciaes.

    Resultado:

     

    a) Em politica: O dominio apenas do individuo ou dos individuos que sejam os mais habeis Realizadores de Medias, desapparecendo por completo o conceito de que a qualquer individuo é licito ter opiniões sobre politica (como sobre qualquer outra cousa), pois que só pode ter opiniões o que fôr Media.

    b) Em arte: Abolição do conceito de Expressão, sustituido por o de Entre-Expressão. Só o que tiver a consciencia plena de estar exprimindo as opiniões de pessoa nenhuma (o que fôr Media portanto) pode ter alcance.

    c) Em philosophia: Substituição do conceito de Philosophia por o de Sciencia, visto a Sciencia ser a Media concreta entre as opiniões philosophicas, verificando-se ser media pelo seu “caracter objetivo”, isto é, pela sua adaptação ao “universo exterior”, que é a Media das subjectividades. Desapparecimento portanto da Philosophia em proveito da Sciencia.

    Resultados finaes, syntheticos:

     

    a) Em politica: Monarchia Scientifica, anti-tradicionalista e anti-hereditaria, absolutamente expontanea pelo apparecimento sempre imprevisto do Rei-Media. Relegação do Povo ao seu papel scientificamente natural de mero fixador dos impulsos de momento.

    b) Em arte: Substituição da expressão de uma epocha por trinta ou quarenta poetas, por a sua expressão por (por ex.), dois poetas cada um com quinze ou vinte personalidades, cada uma das quaes seja uma Media entre correntes sociaes do momento.

    c) Em philosophia: Integração da philosophia na arte e na sciencia; desapparecimento, portanto, da philosophia como metaphysica-sciencia. Desapparecimento de todas as fórmas do sentimento religioso (desde o christianismo ao humanitarismo revolucionario) por não representarem uma Media.

     

    Mas qual o Methodo, o feitio da operação collectiva que ha de organizar, nos homens do futuro, esses resultados? Qual o Methodo operatorio inicial?

    O Methodo sabe-o só a geração por quem grito, por quem o cio da Europa se roça contra as paredes!

    Se eu soubesse o Methodo, seria eu-proprio toda essa geração!

    Mas eu só vejo o Caminho; não sei onde elle vae ter.

    Em todo o caso proclamo a necessidade da vinda da Humanidade dos Engenheiros!

    Faço mais: garanto absolutamente a vinda da Humanidade dos Engenheiros!

    Proclamo, para um futuro proximo, a creação scientifica dos Superhomens!

    Proclamo a vinda de uma Humanidade mathematica e perfeita!

    Proclamo a sua Vinda em altos gritos!

    Proclamo a sua Obra em altos gritos!

    Proclamo-A, sem mais nada, em altos gritos!

    E proclamo tambem: Primeiro:

    O Superhomem será, não o mais forte, mas o mais completo!

    E proclamo tambem: Segundo:

    O Superhomem será, não o mais duro, mas o mais complexo!

    E proclamo tambem: Terceiro:

    O Superhomem será, não o mais livre, mas o mais harmonico!

    Proclamo isto bem alto e bem no auge, na barra do Tejo, de costas pra a Europa, braços erguidos, fitando o Atlantico e saudando abstractamente o Infinito.

    Alvaro de Campos.

    O texto também foi publicado em forma de Separata, datado de Outubro de 1917, e assinado «Alvaro de Campos | Sensacionista». Pode ser consultado em http://purl.pt/17263.
  • ULTIMATUM

    de Álvaro de Campos

    Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.

    Fora tu, Anatole France, Epicuro de farmacopeia homeopática, tenia-Jaurès do Ancien Régime, salada de Renan- Flaubert em louça do século dezassete, falsificada!

    Fora tu, Maurice Barrès, feminista da Ação, Châteaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!

    Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brazão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!

    Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!

    Fora! Fora!

    Fora tu, George Bernard Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish Melody calvinista com letra da Origem das Espécies!

    Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!

    Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialética cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios!

    Fora tu, Yeats da céltica bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!

    Fora! Fora!

    Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, “D. Juan em Pathmos” (solo de trombone)!

    E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!

    E tu, Loti, sopa salgada, fria!

    E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!

    Fora! Fora! Fora!

    E se houver outros que faltem, procurem-nos aí pra um canto!

    Tirem isso tudo da minha frente!

    Fora com isso tudo! Fora!

     

    Aí! Que fazes tu na celebridade, Guilherme Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!

    Quem és tu, tu da juba socialista, David Lloyd George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!

    E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?!

    E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato-Boselli da incompetência ante os factos, todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!

    E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados pra baixo à porta da Insuficiência da Época!

    Tirem isso tudo da minha frente!

    Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!

    Tudo daqui pra fora! Tudo daqui pra fora!

    Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!

    Se não querem sair, fiquem e lavem-se!

     

    Falência geral de tudo por causa de todos!

    Falência geral de todos por causa de tudo!

    Falência dos povos e dos destinos ― falência total!

    Desfile das nações para o meu Desprezo!

    Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!

    Tu, “esforço francês”, galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe deem muita corda senão parte-se!)

    Tu organização britânica, com Kitchener no fundo do mar desde o princípio da guerra!

    (It's a long, long way to Tipperary, and a jolly sight longer way to Berlin!)

    Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordeamento imperialoide de servilismo engatado!

    Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!

    Tu, Von Bélgica, heroica à força, limpa a mão à parede que foste!

    Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!

    Tu, “imperialismo” espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!

    Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica, pronúncia nasal do modernismo inestético!

    E tu, Portugal-centavos, resto de Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!

    E tu, Brasil, “república irmã”, blague de Pedro Álvares Cabral, que nem te queria descobrir!

    Ponham-me um pano por cima de tudo isso!

    Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!

    Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?

    Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!

    Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!

    Agora a arte é o ter ficado Rodin!

    Agora a literatura é Barrès significar!

    Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!

    Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!

    Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espetaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus!

    Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!

    Sufoco de ter só isto à minha volta!

    Deixem-me respirar!

    Abram todas as janelas!

    Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!

     

    Nenhuma ideia grande, ou noção completa ou ambição imperial de imperador-nato!

    Nenhuma ideia de uma estrutura, nenhum senso do Edifício, nenhuma ânsia do Orgânico-Criado!

    Nem um pequeno Pitt, nem um Goethe de cartão, nem um Napoleão de Nürnberg!

    Nem uma corrente literária que seja sequer a sombra do romantismo ao meio-dia!

    Nem um impulso militar que tenha sequer o vago cheiro de um Austerlitz!

    Nem uma corrente política que soe a uma ideia-grão, chocalhando-a, ó Caios Gracchos de tamborilar na vidraça!

    Época vil dos secundários, dos aproximados, dos lacaios com aspirações de lacaios a reis-lacaios!

    Lacaios que não sabeis ter a Aspiração, burgueses do Desejo, transviados do balcão instintivo! Sim, todos vós que representais a Europa, todos vós que sois políticos em evidência em todo o mundo, que sois literatos meneurs de correntes europeias, que sois qualquer coisa a qualquer coisa neste maelström de chá-morno!

     

    Homens-altos de Lilliput-Europa, passai por baixo do meu Desprezo!

    Passai vós, ambiciosos do luxo quotidiano, anseios de costureiras dos dois sexos, vós cujo tipo é o plebeu Annunzio, aristocrata de tanga de ouro!

    Passai vós, que sois autores de correntes sociais, de correntes literárias, de correntes artísticas, verso da medalha da impotência de criar!

    Passai, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!

    Passai, radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da audácia, que tendes a impotência por esteio das neo-teorias!

    Passai, gigantes de formigueiro, ébrios da vossa personalidade de filhos de burguês, com a mania da grande-vida roubada na dispensa paterna e a hereditariedade indesentranhada dos nervos!

    Passai, mistos; passai, débeis que só cantais a debilidade; passai, ultra-débeis que cantais só a força, burgueses pasmados ante o atleta de feira que quereis criar na vossa indecisão febril!

    Passai, esterco epileptoide sem grandezas, histerialixo dos espectáculos, senilidade social do conceito individual de juventude!

    Passai, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cérebro de origem!

    Passai à esquerda do meu Desdém virado à direita, criadores de “sistemas filosóficos”, Boutroux, Bergsons, Euckens, hospitais para religiosos incuráveis, pragmatistas do jornalismo metafísico, lazzaroni da construção meditada!

    Passai e não volteis, burgueses da Europa-Total, párias da ambição de parecer-grandes, provincianos de Paris!

    Passai, decigramas da Ambição, grandes só numa época que conta a grandeza por centimiligramas!

    Passai, provisórios, quotidianos, artistas e políticos estilo lightning-lunch, servos empoleirados da Hora, trintanários da Ocasião!

    Passai, “finas sensibilidades” pela falta de espinha dorsal; passai, construtores de café e conferência, monte de tijolos com pretensões a casa!

    Passai, cerebrais dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!

    Inútil luxo, passai, vã grandeza ao alcance de todos, megalomania triunfante do aldeão de Europa-aldeia! Vós que confundis o humano com o popular, e o aristocrático com o fidalgo! Vós que confundis tudo, que, quando não pensais nada, dizeis sempre outra coisa! Chocalhos, incompletos, maravalhas, passai!

    Passai, pretendentes a reis parciais, lords de serradura, senhores feudais do Castelo de Papelão!

    Passai, romantismo póstumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em álcool dos fetos de Racine, dinamismo dos Whitmans de degrau de porta, dos pedintes da inspiração forçada, cabeças ocas que fazem barulho porque vão bater com elas nas paredes!

    Passai, cultores do hipnotismo em casa, dominadores da vizinha do lado, caserneiros da Disciplina que não custa nem cria!

    Passai, tradicionalistas autoconvencidos, anarquistas deveras sinceros, socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar! Rotineiros da revolução, passai!

    Passai eugenistas, organizadores de uma vida de lata, prussianos da biologia aplicada, neomendelianos da incompreensão sociológica!

    Passai, vegeterianos, teetotalers, calvinistas dos outros, kill-joys do imperialismo de sobejo!

    Passai, amanuenses do “vivre sa vie” de botequim extremamente de esquina, ibsenoides Bernstein-Bataille do homem forte de sala de palco!

    Tango de pretos, fosses tu ao menos minuete!

    Passai, absolutamente, passai!

     

    Vem tu finalmente ao meu Asco, roça-te tu finalmente contra as solas do meu Desdém, grand finale dos parvos, conflagração-escárnio, fogo em pequeno monte de estrume, síntese dinâmica do estatismo ingénito da Época!

    Roça-te tu e roja-te, impotência a fazer barulho!

    Roça-te, canhões declamando a incapacidade de mais ambição que balas, de mais inteligência que bombas!

    Que esta é a equação-lama da infâmia do cosmopolitismo de tiros:

    VON BISSING
    BÉLGICA
    = JONNART
    GRÉCIA

    Proclamem bem alto que ninguém combate pela Liberdade ou pelo Direito! Todos combatem por medo dos outros! Não tem mais metros que estes milímetros a estatura das suas direções!

    Lixo guerreiro-palavroso! Esterco Joffre-Hindenburguesco! Sentina europeia de Os Mesmos em cisão balofa!

    Quem acredita neles?

    Quem acredita nos outros?

    Façam a barba aos poilus!

    Descasquetem o rebanho inteiro!

    Mandem isso tudo pra casa descascar batatas simbólicas!

    Lavem essa celha de mixórdia inconsciente!

    Atrelem uma locomotiva a essa guerra!

    Ponham uma coleira a isso e vão exibi-lo para a Austrália!

     

    Homens, nações, intuitos, está tudo nulo!

    Falência de tudo por causa de todos!

    Falência de todos por causa de tudo!

    De um modo completo, de um modo total, de um modo integral:

    MERDA!

    A Europa tem sede de que se crie, tem fome de Futuro!

    A Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generais!

    Quer o Político que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu Povo!

    Quer o Poeta que busque a Imortalidade ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as atrizes e para os produtos farmacêuticos!

    Quer o General que combata pelo Triunfo Construtivo, não pela vitória em que apenas se derrotam os outros!

    A Europa quer muitos destes Políticos, muitos destes Poetas, muitos destes Generais!

    A Europa quer a Grande Ideia que esteja por dentro destes Homens Fortes — a ideia que seja o Nome da sua riqueza anónima!

    A Europa quer a Inteligência Nova que seja a Forma da sua Mateira caótica!

    Quer a Vontade Nova que faça um Edifício com as pedras-ao-acaso do que é hoje a Vida!

    Quer a Sensibilidade Nova que reúna de dentro os egoísmos dos lacaios da Hora!

    A Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!

    A Europa está farta de não existir ainda! Está farta de ser apenas o arrabalde de si própria! A Era das Máquinas procura, tacteando, a vinda da Grande Humanidade!

    A Europa anseia, ao menos, por Teóricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do seu Futuro!

    Dai Homeros à Era das Máquinas, ó Destinos científicos! Dai Miltons à Época das Coisas Elétricas, ó Deuses interiores à Matéria!

    Dai-nos Possuidores de si próprios, Fortes Completos, Harmónicos Subtis!

    A Europa quer passar de designação geográfica a pessoa civilizada!

    O que aí está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!

    O que aí está não pode durar, porque não é nada!

    Eu, da Raça dos Navegadores, afirmo que não pode durar!

    Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!

    Quem há na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a descobrir? Quem sabe estar em um Sagres qualquer?

    Eu, ao menos, sou uma grande Ânsia, do tamanho exato do Possível!

    Eu, ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!

    Ergo-me ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!

    Eu, ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!

    Vou indicar o caminho!

    ATENÇÃO!

    Proclamo, em primeiro lugar,

    A Lei de Malthus da Sensibilidade

    Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.

    Compreende-se a importância desta lei. A sensibilidade ― tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possíveis ― é a fonte de toda a criação civilizada. Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a força da obra resultante.

    Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência insistente do meio atual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nascença, função do temperamento que a hereditariedade lhe infixou. A sensibilidade, portanto, progride por gerações.

    As criações da civilização, que constituem o “meio” da sensibilidade, são a cultura, o progresso científico, a alteração nas condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes ― e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado ― progridem não por obra de gerações, mas pela interação e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora lentamente a princípio, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu, ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.

    Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos ― uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.

    A desadaptação não foi grande no primeiro período da nossa civilização, da Renascença ao século XVIII, em que os estímulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estímulos, por sua própria natureza, eram de progresso lento, e atingiam a princípio apenas as camadas superiores da sociedade. Acentuou-se a desadaptação no segundo período, que parte da Revolução para o século XIX, e em que os estímulos são já sobretudo políticos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estímulo muito mais vasto. Cresceu a desadaptação vertiginosamente no período desde meados do século XIX à nossa época, em que o estímulo, sendo as criações da ciência, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa atrás os progressos da sensibilidade, e, nas aplicações práticas da ciência, atinge toda a sociedade. Assim se chega à enorme desproporção entre o termo presente da progressão geométrica dos estímulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão aritmética da própria sensibilidade.

    Daí a desadaptação, a incapacidade criativa da nossa época. Temos, portanto, um dilema: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural, a instintiva faliu.

    Para que a civilização não morra, proclamo, portanto, em segundo lugar,

    A Necessidade da Adaptação Artificial

    O que é a adaptação artificial?

    É um ato de cirurgia sociológica. É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar, pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estímulos.

    A sensibilidade chegou a um estado mórbido, porque se desadaptou. Não há que pensar em curá-la. Não há curas sociais. Há que pensar em operá-la para que ela possa continuar a viver. Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirúrgica, embora envolva uma mutilação.

    O que é que é preciso eliminar do psiquismo contemporâneo?

    Evidentemente que é aquilo que seja a aquisição fixa mais recente no espírito — isto é, aquela aquisição geral do espírito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por três razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psíquicas, é a menos difícil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se forma por uma reação contra a anterior, são os princípios da anterior que são os mais antagónicos à atual e que mais impedem a sua adaptação às condições especiais que durante esta apareçam; (c) porque, sendo a aquisição fixa mais recente, a sua eliminação não ferirá tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo depósito psíquico.

    Qual é a última aquisição fixa do espírito humano geral?

    Deve ser composta de dogmas do cristianismo, porque a Idade Média, vigência plena daquele sistema religioso, precede imediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa civilização, e os princípios cristãos são contraditados pelos firmes ensinamentos da ciência moderna.

    A adaptação artificial será portanto espontaneamente feita desde que se faça uma eliminação das aquisições fixas do espírito humano, que derivam da sua mergência no cristianismo.

    Proclamo, por isso, em terceiro lugar,

    A intervenção cirúrgica anticristã

    Resolve-se ela, como é de ver, na eliminação dos três preconceitos, dogmas, ou atitudes, que o cristianismo fez que se infiltrassem na própria substância da psique humana.

    Explicação concreta:

    1. ― Abolição do dogma da personalidade ― isto é, de que temos uma Personalidade “separada” das dos outros. É uma ficção teológica. A personalidade de cada um de nós é composta (como o sabe a psicologia moderna, sobretudo desde a maior atenção dada à sociologia) do cruzamento social com as “personalidades” dos outros, da imersão em correntes e direções sociais e da fixação de vincos hereditários, oriundos, em grande parte, de fenómenos de ordem coletiva. Isto é, no presente, no futuro, e no passado, somos parte dos outros, e eles parte de nós. Para o autossentimento cristão, o homem mais perfeito é o que com mais verdade possa dizer “eu sou eu”; para a ciência, o homem mais perfeito é o que com mais justiça possa dizer “eu sou todos os outros”.

    Devemos pois operar a alma, de modo a abri-la à consciência da sua interpenetração com as almas alheias, obtendo assim uma aproximação concretizada do Homem-Completo, do Homem-Síntese da Humanidade.

    Resultados desta operação:

     

    (a) Em política: Abolição total do conceito de democracia, conforme a Revolução Francesa, pelo qual dois homens correm mais que um homem só, o que é falso, porque um homem que vale por dois é que corre mais que um homem só! Um mais um não são mais do que um, enquanto um e um não formam aquele Um a que se chama Dois. —Substituição, portanto, à Democracia, da Ditadura do Completo, do Homem que seja, em si próprio, o maior número de Outros; que seja, portanto, A Maioria. Encontra-se assim o Grande Sentido da Democracia, contrário em absoluto ao da atual, que, aliás, nunca existiu.

    (b) Em arte: Abolição total do conceito de que cada indivíduo tem o direito ou o dever de exprimir o que sente. Só tem o direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o indivíduo que sente por vários. Não confundir com “a expressão da Época”, que é buscada pelos indivíduos que nem sabem sentir por si próprios. O que é preciso é o artista que sinta por um certo número de Outros, todos diferentes uns dos outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro. O artista cuja arte seja uma Síntese-Soma, e não uma Síntese-Subtração dos outros de si, como a arte dos atuais.

    (c) Em filosofia: Abolição do conceito de verdade absoluta. Criação da Super-Filosofia. O filósofo passará a ser o interpretador de subjetivites entrecruzadas, sendo o maior filósofo o que maior número de filosofias espontâneas alheias concentrar. Como tudo é subjetivo, cada opinião é verdadeira para cada homem: a maior verdade será a soma-síntese-interior do maior número destas opiniões verdadeiras que se contradizem umas às outras.

     

    2. — Abolição do preconceito da individualidade. — É outra ficção teológica — a de que a alma de cada um é una e indivisível. A ciência ensina, ao contrário, que cada um de nós é um agrupamento de psiquismos subsidiários, uma síntese malfeita de almas celulares. Para o autossentimento cristão, o homem mais perfeito é o mais coerente consigo próprio; para o homem de ciência, o mais perfeito é o mais incoerente consigo próprio,

    Resultados:

     

    (a) Em política: A abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espírito, o desaparecimento total de toda a fixidez de opiniões e de modos-de-ver; desaparecimento portanto de todas as instituições que se apoiem no facto de qualquer “opinião pública” poder durar mais de meia-hora. A solução de um problema num dado momento histórico será feita pela coordenação ditatorial (vide parágrafo anterior) dos impulsos do momento dos componentes humanos desse problema, que é uma coisa puramente subjetiva, é claro. Abolição total do passado e do futuro como elementos com que se conte, ou em que se pense, nas soluções políticas. Quebra inteira de todas as continuidades.

    (b) Em arte: Abolição do dogma da individualidade artística. O maior artista será o que menos se definir, e o que escrever em mais géneros com mais contradições e dissemelhanças. Nenhum artista deverá ter só uma personalidade. Deverá ter várias, organizando cada uma por reunião concretizada de estados de alma semelhantes, dissipando assim a ficção grosseira de que é uno e indivisível.

    (c) Em filosofia: Abolição total da Verdade como conceito filosófico, mesmo relativo ou subjetivo. Redução da filosofia à arte de ter teorias interessantes sobre o “Universo”. O maior filósofo aquele artista do pensamento, ou antes da “arte abstrata” (nome futuro da filosofia) que mais teorias coordenadas, não relacionadas entre si, tiver sobre a “Existência”.

     

    3. — Abolição do dogma do objetivismo pessoal. — A objetividade é uma média grosseira entre as subjetividades parciais. Se uma sociedade for composta, por ex., de cinco homens, a, b, c, d, e e, a “verdade” ou “objetividade” para essa sociedade será representada por

    a+b+c+d+e
    5

    No futuro cada indivíduo deve tender para realizar em si esta média. Tendência, portanto de cada indivíduo, ou, pelo menos, de cada indivíduo superior, a ser uma harmonia entre as subjetividades alheias (das quais a própria faz parte), para assim se aproximar o mais possível daquela Verdade-Infinito, para a qual idealmente tende a série numérica das verdades parciais.

    Resultado:

     

    a) Em política: O domínio apenas do indivíduo ou dos indivíduos que sejam os mais hábeis Realizadores de Médias, desaparecendo por completo o conceito de que a qualquer indivíduo é lícito ter opiniões sobre política (como sobre qualquer outra coisa), pois que só pode ter opiniões o que for Média.

    b) Em arte: Abolição do conceito de Expressão, sustituído pelo de Entre-Expressão. Só o que tiver a consciência plena de estar exprimindo as opiniões de pessoa nenhuma (o que for Média portanto) pode ter alcance.

    c) Em filosofia: Substituição do conceito de Filosofia pelo de Ciência, visto a Ciência ser a Média concreta entre as opiniões filosóficas, verificando-se ser média pelo seu “carácter objetivo”, isto é, pela sua adaptação ao “universo exterior”, que é a Média das subjetividades. Desaparecimento portanto da Filosofia em proveito da Ciência.

    Resultados finais, sintéticos:

     

    a) Em política: Monarquia Científica, antitradicionalista e anti-hereditária, absolutamente espontânea pelo aparecimento sempre imprevisto do Rei-Média. Relegação do Povo ao seu papel cientificamente natural de mero fixador dos impulsos de momento.

    b) Em arte: Substituição da expressão de uma época por trinta ou quarenta poetas, por a sua expressão por (por ex.), dois poetas cada um com quinze ou vinte personalidades, cada uma das quais seja uma Média entre correntes sociais do momento.

    c) Em filosofia: Integração da filosofia na arte e na ciência; desaparecimento, portanto, da filosofia como metafísica-ciência. Desaparecimento de todas as formas do sentimento religioso (desde o cristianismo ao humanitarismo revolucionário) por não representarem uma Média.

     

    Mas qual o Método, o feitio da operação coletiva que há de organizar, nos homens do futuro, esses resultados? Qual o Método operatório inicial?

    O Método sabe-o só a geração por quem grito, por quem o cio da Europa se roça contra as paredes!

    Se eu soubesse o Método, seria eu próprio toda essa geração!

    Mas eu só vejo o Caminho; não sei onde ele vai ter.

    Em todo o caso proclamo a necessidade da vinda da Humanidade dos Engenheiros!

    Faço mais: garanto absolutamente a vinda da Humanidade dos Engenheiros!

    Proclamo, para um futuro próximo, a criação científica dos Super-homens!

    Proclamo a vinda de uma Humanidade matemática e perfeita!

    Proclamo a sua Vinda em altos gritos!

    Proclamo a sua Obra em altos gritos!

    Proclamo-A, sem mais nada, em altos gritos!

    E proclamo também: Primeiro:

    O Super-homem será, não o mais forte, mas o mais completo!

    E proclamo também: Segundo:

    O Super-homem será, não o mais duro, mas o mais complexo!

    E proclamo também: Terceiro:

    O Super-homem será, não o mais livre, mas o mais harmónico!

    Proclamo isto bem alto e bem no auge, na barra do Tejo, de costas pra a Europa, braços erguidos, fitando o Atlântico e saudando abstratamente o Infinito.

    Álvaro de Campos.

    O texto também foi publicado em forma de Separata, datado de Outubro de 1917, e assinado «Alvaro de Campos | Sensacionista». Pode ser consultado em http://purl.pt/17263.
  • Nomes

    • Alfred Fouillée
    • Anatole France
    • Aristide Briand
    • Auguste Rodin
    • Caio Graccho
    • Charles Jonnart
    • Charles Maurras
    • David Lloyd George
    • Deus
    • Edmond Rostand
    • Eduard Bernstein
    • Eduardo Dato
    • Elefhterios Venizelos
    • Epicuro
    • Ernest Renan
    • François-René de Chateaubriand
    • Frédéric Bataille
    • Gabrielle D'Annunzio
    • George Bernard Shaw
    • Gilbert Keith Chesterton
    • Gregor Mendel
    • Guilherme Segundo da Alemanha
    • Gustave Flaubert
    • H. G. Wells
    • Henri Bergson
    • Henrik Ibsen
    • Herbert Kitchener
    • Homero
    • Jean Calvino
    • Jean Racine
    • Johann Wolfgang von Goethe
    • John Milton
    • Joseph Joffre
    • Júlio César
    • Maurice Barrès
    • Maurice Maeterlinck
    • Moritz von Bissing
    • Napoleão
    • Otto von Bismarck
    • Paolo Boselli
    • Paul Bourget
    • Pedro Álvares Cabral
    • Pierre Loti
    • Péricles
    • Rudolph Eucken
    • Rudyard Kipling
    • Thomas Malthus
    • Walt Whitman
    • William Butler Yeats
    • William Pitt
    • Álvaro de Campos
    • Émile Boutroux