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AH, um soneto…
Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
E que a vai relembrando pouco a pouco
Em casa a passear, a passear…
No movimento (eu mesmo me desloco
Nesta cadeira, só de o imaginar)
O mar abandonado fica em foco
Nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas — esta é boa! ― era do coração
Que eu falava… e onde diabo estou eu agora
Com almirante em vez de sensação?…
ALVARO DE CAMPOS
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AH, um soneto…
Meu coração é um almirante louco
Que abandonou a profissão do mar
E que a vai relembrando pouco a pouco
Em casa a passear, a passear…
No movimento (eu mesmo me desloco
Nesta cadeira, só de o imaginar)
O mar abandonado fica em foco
Nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas — esta é boa! — era do coração
Que eu falava… e onde diabo estou eu agora
Com almirante em vez de sensação?…
ÁLVARO DE CAMPOS
Ah, um Soneto...
Álvaro de Campos
Presença 34, novembro — fevereiro de 1932, p. 7.