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[249]
TRÍPTICO
I
O INFANTE D. HENRIQUE
Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.
[250]II
D. JOÃO O SEGUNDO
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu;
E parece temer o mundo vário
Que êle abra os braços e lhe rasgue o véu.
[251]III
AFONSO DE ALBUQUERQUE
Passa um gigante pela vasta terra.[252]
Seu duro passo faz tremer o solo.
Seu pensamento todo o mundo encerra,
Régio de fôrça e desconsôlo,
Seu vulto augusto é grave de sinais;
Seu grande olhar esta visão revela:
Mais vale o império do que a glória, e mais
Que a gratidão o merecê-la.
Não há corôa em sua fronte altiva,
Cetro nenhum em suas mãos está:
Grande demais para o que a hora viva
A quem é só da hora dá.
FERNANDO PESSOA
Os poemas I e II foram republicados no livro Mensagem (Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934), sob o título de conjunto “O Timbre”, com diferenças ortográficas e de pontuação. O poema III foi aí substituído por um novo poema, que manteve o mesmo título e a mesma posição na sequência. -
[249]
TRÍPTICO
I
O INFANTE D. HENRIQUE
Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.
[250]II
D. JOÃO O SEGUNDO
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu;
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
[251]III
AFONSO DE ALBUQUERQUE
Passa um gigante pela vasta terra.[252]
Seu duro passo faz tremer o solo.
Seu pensamento todo o mundo encerra,
Régio de força e desconsolo,
Seu vulto augusto é grave de sinais;
Seu grande olhar esta visão revela:
Mais vale o império do que a glória, e mais
Que a gratidão o merecê-la.
Não há coroa em sua fronte altiva,
Cetro nenhum em suas mãos está:
Grande demais para o que a hora viva
A quem é só da hora dá.
FERNANDO PESSOA
Os poemas I e II foram republicados no livro Mensagem (Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934), sob o título de conjunto “O Timbre”, com diferenças ortográficas e de pontuação. O poema III foi aí substituído por um novo poema, que manteve o mesmo título e a mesma posição na sequência.
Tríptico
Fernando Pessoa
O Mundo Português , julho ― agosto de 1934, pp. 249-252.