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RUBAIYAT
O fim do longo, inutil dia ensombra.
A mesma sp’rança que não deu se escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bebado
Que extende a mão á sua propria sombra.
Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das cousas nos enlaça,
Sonhos; e a ebria confluencia humana
Vazia echoa-se de raça em raça.
Ao goso segue a dôr, e o goso a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque ha dôr.
Mas de um e de outro vinho nada resta.
FERNANDO PESSOA
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RUBAIYAT
O fim do longo, inútil dia ensombra.
A mesma esp’rança que não deu se escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.
Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das coisas nos enlaça,
Sonhos; e a ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.
Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.
Mas de um e de outro vinho nada resta.
FERNANDO PESSOA
Rubaiyat
Fernando Pessoa
Contemporânea 2, julho — outubro de 1926, p. 98.