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O nosso inquérito sobre o fado

Fernando Pessoa

O ʺNotíciasʺ Ilustrado , 14 de abril de 1929, p. 14.

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    O NOSSO INQUERITO SOBRE O FADO

    O FADO SERÁ OU NÃO UMA CANÇÃO NACIONAL? — OS SEUS INTUITOS SÃO MORALISADORES, OU PELO CONTRARIO ANTINGIRÃO UMA FEIÇÃO DISSOLVENTE? — HA VANTAGEM EM DAR AO FADO O DESENVOLVIMENTO NECESSARIO A ELEGE-LO COMO UMA ESPECIALISAÇÃO ARTISTICA, ETNICA, OU MUSICAL? — TURISTICO, POETICO, SAUDOSISTA, INVOCATIVO, REGIONAL, REPRESENTA O FADO UMA EXPRESSÃO DE BELEZA, DE PROPAGANDA, DE ATRAÇÃO NACIONAL?

    TEEM A PALAVRA, ESCRIPTORES E ARTISTAS:

    [14]

    Toda a poesia ― e a canção é uma poesia ajudada ― reflete o que a alma não tem. Porisso a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos alegres é triste.

    O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episodio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.

    As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade propria, porque ela não existe.

    O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e tambem o abandonou.

    No fado os Deuses regressam legitimos e longinquos. É êsse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.

    Fernando Pessoa

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    O NOSSO INQUÉRITO SOBRE O FADO

    O FADO SERÁ OU NÃO UMA CANÇÃO NACIONAL? — OS SEUS INTUITOS SÃO MORALIZADORES, OU PELO CONTRÁRIO ANTINGIRÃO UMA FEIÇÃO DISSOLVENTE? — HÁ VANTAGEM EM DAR AO FADO O DESENVOLVIMENTO NECESSÁRIO A ELEGÊ-LO COMO UMA ESPECIALIZAÇÃO ARTÍSTICA, ÉTNICA, OU MUSICAL? — TURÍSTICO, POÉTICO, SAUDOSISTA, INVOCATIVO, REGIONAL, REPRESENTA O FADO UMA EXPRESSÃO DE BELEZA, DE PROPAGANDA, DE ATRAÇÃO NACIONAL?

    TÊM A PALAVRA, ESCRITORES E ARTISTAS:

    [14]

    Toda a poesia ― e a canção é uma poesia ajudada ― reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre, e a canção dos povos alegres é triste.

    O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.

    As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.

    O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.

    No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segundo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.

    Fernando Pessoa

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