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INICIAÇÃO
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não ha sono no mundo.
·····················
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
………………………..
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto entre ciprestes.
………………………..
Neófito, não ha morte.
FERNANDO PESSOA
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INICIAÇÃO
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
·····················
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
………………………..
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto entre ciprestes.
………………………..
Neófito, não há morte.
FERNANDO PESSOA
Iniciação
Fernando Pessoa
Presença 35, março — maio de 1932, p. 2.