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Eros e Psique

Fernando Pessoa

Presença 41-42, maio de 1934, p. 13.

  • EROS E PSIQUE

    ... E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma Verdade.

    Do Ritual do Grau de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal

    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.
    Êle tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.
    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera.
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.
    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado.
    Êle dela é ignorado.
    Ela para êle é ninguém.
    Mas cada um cumpre o Destino —
    Ela dormindo encantada,
    Êle buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.
    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, êle vem seguro,
    E, vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora.
    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que êle mesmo era
    A Princesa que dormia.

    FERNANDO PESSOA

  • EROS E PSIQUE

    ... E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma Verdade.

    Do Ritual do Grau de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal

    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.
    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.
    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera.
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.
    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado.
    Ele dela é ignorado.
    Ela para ele é ninguém.
    Mas cada um cumpre o Destino —
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.
    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E, vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora.
    E, ainda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.

    FERNANDO PESSOA

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    • Eros
    • Fernando Pessoa
    • Psique