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CANÇÃO DE OUTOMNO
No entardecer da terra
O sopro do longo outomno
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num somno,
Na livida solidão.
Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve e revolve,
E esváe-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento livido volve
E expira na lividez.
Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E mesmo o que hoje sou
Amanhã direi: Quem dera
Volver a sel-o!… Mais frio
O vento vago voltou.
1910
FERNANDO PESSOA.
Poema republicado, sem título, em “Alguns Poemas / De um Cancioneiro”, Athena 3, Dezembro de 1924, pp. 82-88. Para além de diferenças ortográficas, na segunda publicação o terceiro verso da última estrofe é substituído por “E até do que hoje sou”. -
CANÇÃO DE OUTONO
No entardecer da terra
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.
Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve e revolve,
E esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento lívido volve
E expira na lividez.
Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E mesmo o que hoje sou
Amanhã direi: Quem dera
Volver a sê-lo!… Mais frio
O vento vago voltou.
1910
FERNANDO PESSOA.
Poema republicado, sem título, em “Alguns Poemas / De um Cancioneiro”, Athena 3, Dezembro de 1924, pp. 82-88. Para além de diferenças ortográficas, na segunda publicação o terceiro verso da última estrofe é substituído por “E até do que hoje sou”.
Canção de Outono
Fernando Pessoa
Ilustração Portuguesa , 28 de janeiro de 1922, p. 86.