-
Canção
Sylphos ou gnomos tocam?...
Roçam nos pinheiraes
Sombras e bafos leves
De rythmos musicaes.
Ondulam como em voltas
De estradas não sei onde,
Ou como alguem que entre arvores
Ora se mostra ou esconde.
Fórma longinqua e incerta
Do que eu nunca terei...
Mal oiço, e quasi chóro,
Porque chóro não sei.
Tão tenue melodia
Que mal sei se ella existe
Ou se é só o crepusculo,
Os pinhaes e eu estar triste.
Mas cessa, como uma brisa
Esquece a fórma aos seus ais;
E agora não ha mais musica
Do que a dos pinheiraes.
Fernando Pessoa
-
Canção
Silfos ou gnomos tocam?...
Roçam nos pinheirais
Sombras e bafos leves
De ritmos musicais.
Ondulam como em voltas
De estradas não sei onde,
Ou como alguém que entre árvores
Ora se mostra ou esconde.
Forma longínqua e incerta
Do que eu nunca terei...
Mal oiço, e quase choro,
Porque choro não sei.
Tão ténue melodia
Que mal sei se ela existe
Ou se é só o crepúsculo,
Os pinhais e eu estar triste.
Mas cessa, como uma brisa
Esquece a forma aos seus ais;
E agora não há mais música
Do que a dos pinheirais.
Fernando Pessoa
Canção
Fernando Pessoa
Folhas de Arte 1, 1924.